ACTAS  
 
8/26/2009
Falar Claro
 
Dep.Carlos Coelho
Esta apresentação foi terminada às 4 e meia da manhã entre mim e o Rodrigo e portanto pode ter aqui e ali algum lapso, terá seguramente o erro da falta da concisa., Vamos tentar acelerar  mas receamos não ser bons exemplos naquilo que vos queremos dizer sobre a concisão. Bem, “Falar Claro”, há um truque semântico no título desta apresentação, Falar claro! Porque: falar porque essencial à comunicação falar, nós não conseguimos estabelecer uma comunicação política sem falar claro, sem transmitir, sem comunicar, mas Falar Claro porque também queremos que isso se faça de uma forma clara, a comunicação complexa é uma comunicação que não atinge os seus objectivos.

A nossa apresentação está dividida em 5 pontos: comunicar bem, escrever claro, contactos com a comunicação social, os novos meios e, finalmente 15 conselhos para falar em público.

Vamos portanto começar pela primeira parte, comunicar bem. É o nosso ponto de partida. Comunicar bem porquê? Porque fazer política é comunicar, em democracia quem decide é o povo, é ele que tem a capacidade de dizer quem ganha ou quem perde uma eleição, é ele que tem a capacidade de dizer quem é que tem razão. Nós podemos ser os melhores do mundo, se não formos capazes de comunicar, em democracia não ganhamos nada com isso. Ficamos com a nossa sensação que somos muito bons, se os nossos eleitores não têm essa percepção, nós não conseguimos ganhar. Portanto esta ideia de que comunicar é essencial à política, é também rigoroso sob o ponto de vista do conteúdo programático, isto é, a democracia presume um contrato eleitoral: eu faço uma promessa, digo o que é que quero fazer, apresento o meu programa, exponho a minha convicção e os eleitores votam em mim. E no final do mandato tenho que comunicar o que é que fiz, aliás devo fazê-lo durante todo o mandato, de forma a que os eleitores sejam capazes de julgar se eu fui capaz, ou não, de honrar o compromisso eleitoral como estabeleci no início das minhas funções. Para tudo isto, comunicar é essencial. Comunicar é perceber o que é que está a acontecer, é ouvir as pessoas, perceber os seus anseios, os seus problemas, comunicar não é só transmitir, é também ouvir.

Em termos técnicos - é a única parte teórica desta intervenção - há 3 elementos na comunicação: há o emissor, há o receptor e há a mensagem. É essencial que haja sintonia de onda entre o emissor e o receptor, porquê?, porque a mensagem é o que liga emissor e receptor. Imaginem o melhor orador do mundo, a pessoa que, ao fazer uma intervenção, consegue transportar toda a assembleia para a mensagem e para as emoções que quer transmitir. Imaginem esta pessoa aqui na Universidade de Verão, a falar para vocês. Só que essa pessoa é um chinês. Como presumo que ninguém na sala percebe chinês, o melhor orador do mundo não está em condições de fazer nada em termos de comunicação, não vai transportar uma ideia, não vai comportar uma emoção. Porquê? Porque não estamos sintonizados. Esta mensagem não liga emissor a receptor. O receptor, por sua via, é também emissor. Quando nós fazemos, por exemplo, uma sondagem ou quando nós vamos a reuniões para ouvir os eleitores, não somos nós que estamos a falar, somos nós que estamos a ouvir, e esta lógica da comunicação emissor-mensagem-receptor volta ao contrário, o receptor passa a ser o emissor e nós passamos a ser o receptor.

Estou a falar com quem? Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, e se o Carlos foi bastante pessimista em relação à necessidade de termos uma sintonia de onda entre o emissor, a mensagem e o receptor, eu sou ainda pior, mais pessimista porque tenho a apresentar-vos o receptor. Este peixinho todos vocês conhecem, alguns de vocês têm de certeza em cima do frigorífico, é uma criatura simpática, passeia-se de um lado para o outro dentro do aquário, e passeia-se de um lado para o outro dentro do aquário porque não se lembra que já lá esteve e por isso é que anda às voltinhas, tem uma memória de 3 segundos. E isto, meus caros amigos, é o nosso eleitor, é uma mensagem horrível, este é o nosso receptor, tem uma memória de 3 segundos. E pior ainda, este é o nosso comportamento eleitoral, “mééé”, assim, somos uma espécie de rebanho. E se pensarem que o eleitorado é um rebanho, que pode ser conduzido, pensem que os partidos são uma espécie de cães-pastores. Só que há 5, ou 6, ou 7, portanto cada cão puxa para o seu lado, o que obriga o rebanho a separar-se, uns vão para um lado, uns vão para a esquerda, outros vão para a direita , e as ovelhas negras vão para o Bloco de Esquerda (risos). E o que é que nós temos dentro da cabeça? O que é que o receptor tem dentro da cabeça? E somos todos nós, todos nós somos emissores e receptores num determinado momento. É isto, basicamente: crime, sexo, futebol, futebol, futebol, futebol, futebol, telenovelas, telenovelas, telenovelas, telenovelas, mas eu esqueci-me de uma coisa. Decorar o nome dos 3 guarda-redes do Benfica é uma coisa que dá trabalho, ocupa espaço, pensem no vosso cérebro, eu estou a falar a sério, pensem no vosso cérebro como se fosse um computador com uma determinada capacidade, e quanto mais informação vocês lá põem, mais espaço de disco rígido ocupam, menos espaço fica para as coisas.

Aliás, há um senhor que costuma falar sobre esta questão das neurociências e dos cérebros, chamado António Damásio, com quem tive o privilégio de trabalhar e que explicava muito simplesmente isto: é útil para nós que o cérebro funcione por compartimentos, e nós conseguimos identificar através da imagiologia que parte do cérebro é que está a funcionar a cada momento e que parte do cérebro é que responde a determinado estímulo. Uma das primeiras conclusões a que ele chega, é que um estímulo visual demora meio segundo a chegar à parte da emoção e só depois chega à parte racional. O que é que isto quer dizer e o que é que isto nos interessa? Interessa porque eu antes de abrir a boca vocês já gostam de mim ou não gostam. É simples. Gostam, ponto. É emocional. Daí o erro de Descartes, não é o “cogito ergo sum” é o “sinto, logo sou”. Eu sinto e vocês sentem, portanto ou gostam ou não gostam, mesmo antes de eu ter dito fosse o que fosse, depois tudo o resto serve para justificar. Isto provado pela neurociência. E o António Damásio diz outra coisa de que falava há pouco, em 3 segundos, ele diz que é 45 segundos, nós temos ali uma memória temporária, o tempo suficiente para fixarmos o número de telefone quando alguém nos dá, decoramos e depois, ao fim de 45 segundos, decidimos se a informação é importante e guardamo-la no disco rígido, ou deitamo-la fora. Isto é assustador para quem faz política.

A que reage o cérebro? Porque é que o nosso Professor António Damásio diz que reage o cérebro? O cérebro reage principalmente a dois tipos de estímulos: dor e prazer. Dor, a tomada eléctrica dá choque, logo, não ponho os dedos. Prazer, chocolate, chocolate é bom, quero repetir chocolate. Simples, somos na prática umas criaturas muito simples, na prática somos uns animais. Reagimos como uns animais, continuamos a reagir como uns animais, por muito evolucionismo que haja. O Homem procura tudo o que provoca prazer, foge de tudo o que lhe provoca dor. Simples, não é? E mais simples ainda é pensar que as nossas decisões, ao contrário dos que nós julgamos e de acordo com aquilo que o António Damásio diz, as nossas decisões não são totalmente racionais, temos que jogar com a parte emocional. Bom, sabendo, isto, sabendo que nós temos uma memória de 3 segundos, que nos comportamos como umas ovelhas, estou farto de insultar as pessoas, como é que então nós comunicamos? Como é que nós fazemos chegar a nossa mensagem a quem ela deve ser entregue? Muitos simples. Temos três pequenas técnicas: KISS, BUZZ E SOUNDBITE . Vamos ver, uma por uma, o que é que significam.

KISS é uma expressão da publicidade americana, para não variar, Keep It Simple and Stupid - mantenham as coisas simples e estúpidas - e o que é que isto quer dizer? Bom, quer dizer que nós, cada vez que articulamos uma mensagem, temos que pensar como é que nós KISS, como é que beijamos. Temos que pensar no que é que queremos dizer, a quem é que queremos dizer e o que queremos que seja lembrado, isto é fundamental, o que queremos que seja lembrado são os 3 segundos, aqueles 3 segundos do peixinho dourado, aqueles 3 segundos de comunicação que o eleitor nos dá.

Eu tenho um bom exemplo aliás de alguém que é capaz de falar claro e alguém que é capaz de articular o português como nenhum outro:

 No cômbito geral dos 8 encontros que realizamos, essa flexibilidade, essa fluidez interpretativa, acaba por ser para nós, ter uma agradável resultante na medida em que a pontuação obtida de alguma maneira ratifica as opções tomadas”.

(risos)

A pergunta é: “Quanto é que ficou o jogo?” (risos) E nós chegamos ao fim destes 26 segundos  de frase, deve ser das frases mais longas da história para além das dos Saramago, sem pontos finais nem vírgulas, tudo aquilo segue na fluidez da interacção do espectador com o adepto e chegamos à conclusão que o senhor nos esteve a gastar tempo. Tempo, tempo, tempo. Não decoramos uma palavra daquilo que ele disse e ficamos sem saber quanto é que ficou o jogo. Isto é um defeito que normalmente os políticos têm, falam demais, falam caro e normalmente até fazem uma coisa pior: vocês vêem na Assembleia da República o senhor deputado do CDS a levantar-se para o senhor deputado do Bloco de Esquerda e fala com pompa oratória, mas o senhor do Bloco de esquerda nunca há-de votar num senhor do CDS, aconteça aquilo que acontecer (às vezes acontece), mas em princípio aquele não é o target, aquela não é a mensagem. Isto leva-nos a outra questão: que meio?

Bom, se vocês estão a tentar passar uma mensagem num blogue, é escusado escreverem um texto com mais de 500 caracteres, não vale a pena, ninguém à frente de um computador vai perder tempo a ler um longo texto. Um blogue é uma coisa de tiro rápido, não é? Se vão para a Rádio Renascença, se calhar é mal avisado falarem mal sobre a Igreja, ou dizerem que são a favor do aborto, há sítios melhores para o fazer, não é? Se vão para o DN, não vão dizer mal do governo, parece-me óbvio, não é? Portanto, se estão num jantar de campanha, também não vale a pena estarem a fazer comentários sobre blogues, É outra linguagem, é outro meio. E portanto, cada vez que nós temos um meio à nossa disposição, temos que adaptar a mensagem ao target desse meio, cada meio é um target, tem os seus leitores, os seus ouvintes, e nós temos que ser capazes de adaptar a mensagem a esse meio.

BUZZ. O que é BUZZ? Bom, BUZZ é uma expressão outra vez americana, às vezes diz-se também word of mouth, portanto é basicamente aquilo que as pessoas correm como preconceitos, vão contando nos cafés, na rua, vão passando de boca em boca. Bom, isto tem a ver com aqueles 3 segundos de que estávamos a falar e que tem a ver com a capacidade do cérebro de fixar mensagens. E eu estou aqui a mostrar alguns preconceitos engraçados. “Este é um corrupto”. Eu digo esta frase e vocês são capazes de associar imediatamente a determinado político, ou a vários, não é? Vocês têm esse preconceito na cabeça. Mas se eu disser “Dorme 3 horas por dia e é sobredotado”

(alguém responde) Marcelo...

Ah, mas já dormiste com ele? (risos) Ah, pois é, mas tens o preconceito. “Esse é um arrogante” ou “Aquele é um óptimo técnico”, “O rouba mas faz”, o “Não tem hipóteses de ganhar”, que é mortal em política, tudo isto é word of mouth, tudo isto são preconceitos que as pessoas vão passando de boca em boca e que vão ficando. E vocês até podem dormir com o Marcelo e chegar à conclusão que ele dorme 12 horas por dia, ou 14 horas por dia, ou 16 horas por dia, que a verdade é que toda a gente sabe que ele só dorme 3 horas por dia e que é sobredotado. Importantíssima esta parte.

SOUNDBITES. Chavão de resumo. É uma expressão que vem originalmente do cinema, porque  antigamente havia cinema mudo, depois acabou-se esse cinema mudo e o som passou a ser gravado em estúdio, isto é para vos contar a origem da expressão, e depois escolhiam o melhor trecho de som para pôr em cima da imagem. O melhor soundbite. Mas na política isto tem outro significado, soundbites conhecidos: “Vou andar por aí”, soundite fabuloso, não é? Há um congresso, há dois candidatos a líderes e depois há outra pessoa que chega lá e fica a frase do congresso “Eu vou andar por aí”. “Para Angola em força” ou “Um partido sexy”, António Pires de Lima, ou o “Nunca erro e raramente tenho dúvidas”, ou “O país está de tanga” e este é um óptimo exemplo de como uma frase, um soundbite é capaz de sintetizar uma doutrina. Por exemplo, Durão Barroso eleito Primeiro Ministro com a promessa de reduzir os impostos, teve que ir à Assembleia explicar que ía aumentar os impostos e conseguiu explicá-lo numa única frase: “O país está de tanga”. Toda a gente percebeu, podia concordar, não concordar, discordar, reclamar, protestar, manifestar, mas toda a gente percebeu o conceito. “O país está de tanga” foi a melhor forma de explicar que não havia dinheiro para fazer uma redução de impostos, pelo contrário, tínhamos que aumentá-los.

Bom, e se as pessoas só memorizam 3 segundos, cuidado com os 3 segundos que lhes damos. Vamos ver aqui um bom exemplo disso mesmo.

(vídeo)

There is nothing wrong with America…

3 segundos apenas e ele ficou com fama de estúpido. Não é? Dramático. É óbvio que não é só destes 3 segundos e isto tem muito a ver com aquilo que nós estávamos a falar do preconceito. O Bush, não sei se era muito inteligente ou pouco inteligentes, eu nunca dormi com Marcelo nem nunca fiz testes de QI ao Bush. Aquilo que eu sei é que existia o preconceito que ele era estúpido. E, a certa altura, já toda a gente procurava não o melhor momento do Bush, mas o pior momento do Bush. Estava toda a gente à espera que ele dissesse... Então qual é o disparate do dia, amigo? Não é? Normalmente ele até cumpria.

Vocabulogia. Vocabulogia é uma palavra relativamente nova, eu acho que foi inventada para este “Falar Claro”, e tem a ver com a importância das palavras que nós utilizamos a fazer política. Gostava que vocês vissem este vídeo, está em inglês, peço desculpa.

Blair

Cameron

(…)

-Is a tremendous honour and

 privilege

 

- I is a hugged privilege and an

 honour

 

- By taking the tuff decision

- Punch and judy

- Tuff long term decision

- The punch and judy politics

 

 

- Values don’t change, but times Do

 

- That is the change that I’m talking about

- We can change public services..

- Education..

- special schools..

- China and India ..

- 8 years..

- Aspirations..

- and courage..

- millions..

- ??

- never..

- change..

- change..

- change..

- change..

- Change..

- change again..

- in terms..

- But times..

- time..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- changing

- change..

- change as much ??..

- change makers..

-Ch-ch-ch-ch-Changes

Turn and face the stranger

Ch-ch-Changes (música)

- We can change public services..

- Education..

- Special schools..

- India and China ..

- 8 years..

- Aspiration..

- courage..

- millions..

- ???

- Never..

- Change..

- Change..

- Change..

- Change..

- Change..

- Again..

- Terms..

- Time..

- Time..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- changing

- Change..

- that’s got to change..

 

Change, change, change, change, change, onde é que eu me lembro desta palavra? Change, change, change,....Porquê?? Mas porque é que não há originalidade?? Eu explico-lhes porque é que não há originalidade. Cada palavra, pensem em cada palavra como uma imagem, como se fosse uma imagem, como se nós fossemos cãezinhos do Pavlov, somos condicionados ao comportamento e change é bom, mudança é sempre bom, presume-se que quando se vai mudar, vai-se mudar para melhor, nunca ninguém muda para pior. Aliás, a importância das palavras, a publicidade brinca muito com isso. Há vários testes em hipermercados que explicam que nós podemos ter o mesmo Skip, mudamos-lhe a palavra para Novo Skip e as vendas aumentam 15%. Quinze por cento. Depois podem voltar a baixar. E porquê? Bom, porque a senhora dona de casa vai e vê o velho Skip, o novo Skip, o que é que ela vai comprar? Evidentemente o novo Skip. O novo Skip é sempre melhor que o velho Skip. Parece óbvio. É o mesmo Skip, mas é óbvio que o novo Skip é muito melhor que o velho Skip. É evidente, é evidente... E por isso vos digo que há palavras que são cool, há palavras boas de utilizar na política e há palavras que são péssimas de utilizar na política. Vamos ver alguns exemplos de palavras cool.

Tecnologia, tecnologia é tão giro;

Governance, muito melhor que governação ou sistema de administração, governance é de quem não tirou um curso, uma licenciatura norma, mas tirou um MBA em Paris, não é? (risos) Governance!;

Desenvolvimento;

Accountability, muito melhor que responsabilização. Meus amigos, accountability é de quem já esteve em Stanford. Não é? Quem diz “o país precisa de accountability”;

Think tank é muito mais giro que tertúlia, um grupo de reflexão, um think tank é que é uma coisa daquelas que a gente gosta, pessoas como nós que tiraram MBAs em Paris;

Ambiente, palavras na moda;

Biodiversidade, muito na moda, como se alguém fosse contra a existência de passarinhos, ninguém é contra biodiversidade, mas toda a gente diz “eu sou pela biodiversidade”, fica bem, as pessoas gostam, gostam daquele ambiente verde, as eólicas todas da EDP a girar, tudo aquilo soa bem, tudo aquilo nos dá boas imagens, são bons preconceitos.

Ou então simplex, ou então jamais e com sotaque. (Risos)

Depois também há palavras não, que um político nunca pode ser apanhado a utilizar:

Empreiteiro, um político nunca tem um primo empreiteiro e mesmo que tenha é melhor escondê-lo;

Dinheiro, nós temos uma cultura judaico-cristã, dinheiro é sujo, dinheiro não se fala, um político não diz dinheiro, fundos, verbas, receitas, não há cá dinheiro para ninguém, dinheiro é uma coisa que suja as mãos, toda a gente gosta mas suja as mãos;

Política, um político nunca fala em política, é uma coisa péssima, pensem no taxista “o Sr. é político, que coisa horrível”;

Ou então a pior delas todas, a expressão negócio e ainda há pior, a expressão assessor, bom, meus amigos, eu já fui assessor, vocês não podem imaginar o sucesso que eu fazia nos táxis. A maneira como eles me olhavam, primeiro ficavam sempre à espera que eu lhes desse 5 euros de gorjeta e depois olhavam-me sempre com aquele ar de inveja “não fazes nada e tens um grande tacho”. Carlos.

 
Dep.Carlos Coelho
Muito bem, chegamos à parte dois da nossa apresentação: Escrever Claro. Eu pedia agora para abrirem os envelopes que vos foram distribuídos à entrada. Têm 4 documentos, vamos ver um de cada vez.

O primeiro documento que têm no envelope é uma convocatória. A convocatória é simples, vocês têm que convocar os jornalistas para o acto, é uma folha que tem uns sublinhados a fluorescente e aqui há apenas duas coisas a recordar. Primeiro, não se esqueçam de nenhuma informação relevante. Não fazem ideia a quantidade de vezes que alguém se esquece ou de pôr hora, ou de pôr o dia, ou de pôr o local ou de pôr o tema de uma forma inteligente. O que é pôr o tema de uma forma inteligente? É suscitar o interesse dos jornalistas sem abrir o jogo todo, é criar a apetência para que a acção seja coberta sem fazer com que o jornalista diga “Bem, já percebi tudo por aqui, escuso de lá ir, já tenho notícia”, isso é pôr o tema de uma forma inteligente. Fazer uma convocatória afinal é um bocadinho mais sofisticado do que parecia à primeira vista. A lógica é que a estrutura do texto depende do seu objectivo.

Se vocês querem convocar os jornalistas, a estrutura do texto é uma, se querem transmitir a vossa opinião, a estrutura do texto é outra. Têm uma sugestão de comunicado, um statement - para utilizar uma palavra cool, como o Rodrigo gosta de dizer – que é um comunicado em crescendo. Se vocês virem a vossa página 2, vêem que um comunicado em crescendo, começamos com as coisas óbvias e a parte mais suculenta está no fim. Eu vou ganhando a atenção dos jornalista durante a conferência de imprensa ou através do meio que eu utilizar para transmitir o meu comunicado.

O terceiro documento é exactamente o contrário, é um press-release, é a fabricação de uma notícia. E a lógica da notícia é exactamente ao contrário do comunicado: o comunicado vai em crescendo e tem o climax no final, o press release tem o climax logo no início, isto é, começamos no que é mais importante e vamos baixando de importância até que o último parágrafo só tem as informações residuais. Porquê? Porque ao fazer uma notícia, como dizia há pouco o Rodrigo, é normal que a nossa atenção, que a atenção do nosso interlocutor vá desaparecendo, ou porque ele já está cansado de ler, ou porque já está cansado de ouvir. Se nós garantirmos que no início está o mais importante, o mais importante da mensagem já foi passado. Portanto, a lógica da estrutura de um press-release, é exactamente a contrária de um comunicado ou de uma declaração.

Como é que se escreve claro? Escreve-se claro com alguns conselhos simples. Sejam directos, não utilizem vocabulário que não dominem, uma linha não deve exceder as 15 palavras, um parágrafo não deve exceder as 5 linhas, um texto não deve exceder os 5 parágrafos, se possível. E tenham atenção à formatação, o terceiro documento que nós vos distribuímos foi exactamente um documento formatado, vocês vêem que um comunicado, um texto é também como um prato gastronómico, nós também comemos com os olhos, nós também lemos com os olhos. Um texto bem apresentado é garantia de que ele é lido, um texto mal apresentado pode ser o melhor texto do mundo, provavelmente ele vai ser logo jogado fora ou de lado pela pessoa que o está a consumir.

um quarto documento que têm aí, já lá vamos mais à frente.

Contactos com a comunicação social. Os contactos com a comunicação social, vocês têm nas vossas pastas, foi-vos distribuído uma brochura chamada “Falar Claro”, tem aí vários conselhos para os contactos com a comunicação social. Não quero repetir aquilo que já lá está escrito, gostaria só de sublinhar dois ou três que me parecem mais importantes.

Primeiro, não convocar os jornalistas sem razão. Se convocarem os jornalistas sem razão, eles nunca mais virão da próxima vez que vocês o chamarem.

 Atenção, nos jornais regionais, aos dias de saída, escolher o dia é muito importante, não é a mesma coisa num concelho fazer à segunda ou à quinta-feira. Vejam qual é o ritmo dos jornais regionais e locais e tentem escolher o dia em função da melhor projecção mediática.

Atenção ao tamanho da sala. Uma sala demasiado grande é ridículo, uma sala demasiado pequena cria uma sensação de desorganização.

Atenção à luz, sobretudo quando há fotos ou imagens de vídeo para recolher. E atenção ao decor, a pior coisa que pode acontecer é uma fotografia vossa numa mesa, todos com ar muito solene, com uma parede branca por trás. Podem pôr bandeiras, podem pôr uma estrutura opcional por trás, podem pôr qualquer coisa, pode até ser na rua com arvoredo e uma imagem da natureza, embora ela possa ser depois caricaturada pelo Rodrigo que acha que tudo o que é verde não é necessariamente bom, mas arranjem qualquer coisa por trás. A parede branca é a pior coisa para os jornalistas.

Na conferência de imprensa, há vários conselhos que têm nessa vossa publicação. Só uma mensagem fundamental: vocês não se esqueçam, quando estão numa conferência de imprensa, com jornalistas à frente, vocês não estão a falar com os jornalistas. Vocês estão a falar  com os cidadãos que os jornalistas vão servir através do seu trabalho profissional. E portanto, não interessa o que é que eles querem ouvir, o que interessa é o que os seus leitores ouvintes devem ouvir. Eles são um meio para nós chegarmos aos eleitores e, portanto, são um instrumento. Às vezes, quando temos jornalistas à nossa frente, achamos que eles é que são as pessoas importantes. Eles são importantes enquanto meios de transmissão, mas o que é importante são as pessoas que os vão ler ou que os vão ouvir. E isso significa também que nós não podemos reagir iradamente quando algum deles nos perturba. Há jornalistas que são mais conflituosos e alguns mesmo podem estar a soldo do adversário. Nós podemos estar numa conferência de imprensa e ouvir as perguntas mais incómodas, não podemos reagir com exasperação, temos que reagir com elegância, com classe, com um sorriso, sabendo que eles são assim uns filhos da mãe, mas não dando o braço a torcer. O jornalista não é a pessoa que nos interessa, o que nos interessa é a pessoa ou pessoas que estão por trás do jornalista, aqueles que os vão ler ou que os vão ouvir. E não se esqueçam daquilo que dizia há pouco o Rodrigo, o soundbite, qual é a mensagem fundamental, qual é o soudbite que nós queremos que saia dessa conferência de imprensa.

Há outros cuidados que estão na vossa pasta, sobre as entrevistas, sobre as rádios, sobre a televisão. Só um conselho. Adequem a vossa comunicação ao órgão para que estão a falar. Se eu estou a dar uma entrevista escrita, ou se eu estou a falar numa audiência, eu posso usar alguns truques de comunicação, por exemplo, a pausa. Para captar a vossa atenção ou para criar suspense para algo que vou dizer a seguir. Na rádio eu não posso usar pausas. As pessoas na rádio não nos vêem, se eu usar uma pausa na rádio, o ouvinte vai achar que houve um problema na ligação, que os emissores foram abaixo ou que o seu receptor não está a funcionar. Uma pausa em rádio significa que o ecrã da televisão escureceu, é uma tela que não transmite mensagem. Portanto, têm que adequar o vosso estilo de comunicação ao órgão para que estão a comunicar.

E é necessário chamar a atenção da comunicação social. Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu vou outra vez fazer o papel de pessimista. Bom, nós olhamos para um telejornal, abrimos o telejornal e é futebol, futebol, futebol, futebol, crise, gripe, futebol, futebol, futebol, futebol, portanto, a questão que se coloca é, como é que pomos a imprensa, a comunicação social a falar sobre política. Coisa difícil. Bom, alguns diriam que o Bloco de Esquerda inventou uma coisa chamada “os números”. E o que são os “números”? São uma espécie de acontecimentos provocados por nós para obrigarem a comunicação social a falar sobre nós. Bom, não foi obrigatoriamente o Bloco de Esquerda a inventar este tipo de conceito. Todos vocês certamente se calhar não se lembram, mas o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, quando foi candidato a Lisboa, resolveu dar uns mergulhos no Tejo. É uma história daquelas, é um preconceito, é um buzz que vai-se contando de pai para filho e vai passando de geração em geração, com óptimos resultados. Mas isso sim, é um número, e com o número do seu mergulho no Tejo tentou chamar a atenção para o desperdício que era ter uma cidade de costas voltadas para o rio. Mas há outros números, e alguns bastante mais polémicos. Recordam-se do barco do aborto? O PSD quando foi para o governo tinha encerrado a questão do aborto, tinha dito que não faria referendo do aborto, o assunto estava praticamente morto e enterrado e, de repente, chega um barco a dizer que vai fazer abortos. Goste-se, não se goste, concorde-se, não se concorde, a verdade é que toda a gente começou a falar outra vez sobre o assunto, um novo referendo tornou-se praticamente uma inevitabilidade. Tudo por causa deste número.

Ou então um bastante melhor ainda, decerto ser-vos-à familiar, depois daquelas frases fantásticas do deserto e do Ministro das Obras Públicas e dos nossos companheiros – ou camaradas, como eu gosto de referi-los – os nossos camaradas de Setúbal resolveram fazer esta belezura que decoraram com um camelo à séria num belíssimo número de comunicação. Eu lembro-me que cheguei ao café nessa manhã e só se falava na história do camelo, “o camelo”, “o camelo do ministro”,... O camelo do Ministro mas não alguém que o tenha chamado camelo, mas pronto, era o único que existia na margem sul. Mas atenção e cuidado! Os números são muito engraçados, funcionam, resultam perfeitamente, servem para chamar a atenção e notoriedade, para lembrar que nós existimos, mas não significa maiores vendas. Carlos.

 
Dep.Carlos Coelho
Antes de ir à parte negativa, só para vos dizer que um número para chamar a comunicação pode ser um evento, como aqueles que o Rodrigo está a falar,  ou pode ser uma coisa mais simples: pode ser um soundbite, pode ser uma declaração ou pode ser uma imagem. Esta imagem foi utilizada por uma organização internacional de vida saudável, presumo que é mais ou menos evidente, uma imagem tirada da tumba, portanto nós imaginamos o morto a ver as pessoas reunidas à volta da tumba, isto foi vendido como o tecto ideal para uma sala num aeroporto de fumadores. O impacto desta ideia, o impacto desta imagem é muito grande. Se nós conseguirmos fazer uma coisa do género para passar as nossas mensagens, temos seguramente a atenção da comunicação social porque é criativa, é inovadora, transmite força.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Mas cuidado com os excessos de criatividade. Eu não queria assustar-vos, mas esta imagem também não é muito melhor. (risos) Reparem que o LP, na altura ainda existiam LPs, é enorme. Esta é uma imagem obviamente horrível mas a verdade é que o display é bastante criativo e a verdade é que há uma série de anos atrás – isto tem quase 15 anos – na Nova Gente o José Cid conseguiu relançar a carreira também um bocadinho à conta.

Mas ainda falando de figuras ridículas, quando estiverem de férias no Algarve por favor não se atirem à piscina com atletas olímpicos lá dentro. O nosso Ministro Manuel Pinho aliás, é conhecido por essas imagens, depois contou a história de que tinha encontrado O Michael Phelps - que é uma coisa que me acontece também, ainda agora estava na piscina aqui do hotel e estava lá o Michael Phelps a dar umas banhadas -, por acaso encontrou o Michael Phelps e que o Michael Phelps o tinha convidado para dar um mergulho, que é uma coisa que também acontece certamente, o Michael Phelps convidar ministros da República Portuguesa. Mas o nosso Ministro Pinho tem imagens ainda mais conhecidas e famosas. Esta imagem é um verdadeiro soundbite.

Bom, vamos falar de novos media. Todos vocês já ouviram falar daqueles conceitos de política 2.0, sei que vocês estão a fazer um trabalho de grupo em que são obrigados a fazer - obrigados entre aspas – obrigados a fazer um vídeo e depois a trabalhá-lo, o que é bastante engraçado e faz sentido porque nós vamos falar agora que a política já não se faz nos parlamentos e ainda bem que não se faz nos parlamentos.

Vamos só ver este pequeno excerto... Não vamos, não vamos ver este pequeno excerto. Eu não sei se vocês sabem quem este senhor é.

(imagem de Jon Stewart)

 Eh pá, sabem todos, não é? Sabem que nos Estados Unidos, 60% dos jovens, segundo uma sondagem do USAToday já com uma série de tempo, 60% dos jovens americanos dizem que o único contacto com a informação que tinham era o Daily Show. Informação. In-for-ma-ção. Mas a verdade é que o conceito pegou e de repente aquilo que se começou a passar, ele tem aquela componente que consegue mostrar coisas sérias, tratar de coisas sérias a brincar e com humor e com irreverência e a verdade é que para estas eleições americanas aconteceu uma coisa absolutamente extraordinária que foi os candidatos pedirem para ser entrevistados pelo Jon Stewart. O Jon Stewart, o programa humorístico. Portanto, se faz favor entrevistem-me num programa humorístico. Porquê?  Porque as audiências são brutais e porque os próprios candidatos tinham a noção que não estavam a conseguir chegar aos seus eleitorados pelos meios tradicionais. Não valia a pena fazer discursos muito pomposos, mais valia irem directamente à fonte, ao Jon Stewart, ou ir então aos novos meios como foi o caso do Youtube. Aliás, há este artigo absolutamente extraordinário do DN, já tem uma série de tempo, ainda a Hillary era candidata e o Obama ainda não tinha sido eleito, e eles falam do exemplo da Hillary e do Obama como utilizadores das redes sociais, do Youtube, de tudo aquilo que são ferramentas 2.0 de redes na Internet.

Mas isto é importante porquê? Não sei se vocês têm noção destes números, esta é a tiragem do jornal Público, tiragem não significa vendas. O Público é aquele jornal muitíssimo importante, portanto se vocês tivessem que escolher um diário para pôr uma notícia, escolheriam o Público. Esta é a tiragem, não significa vendas – são 59 mil exemplares, as vendas devem ser metade, talvez. E aquilo que vocês têm do outro lado é o número de IPs, não são pessoas, as pessoas são mais. Às vezes nós podemos ter um IP partilhado para 5 pessoas, o número de IPs que entram diariamente na página do Público online, são 3 vezes mais. Três vezes mais, o que significa que se eu quiser que a minha notícia seja lida, se eu quiser que a minha mensagem seja ouvida, compensa-me muito mais ligar para o editor online do Público, do que estar a chatear o jornalista do papel. Esta é a verdade. Aliás, estes são outros números assustadores, não sei se vocês tinham esta noção.

Do vosso lado esquerdo, a imagem também não é muito melhor. (risos) A do sapo, claro. A do sapo... O sapo está esticado. (risos) (Por isso é que eu nunca vou conseguir ter uma carreira decente, eu não vou conseguir lá chegar...)

Do vosso lado esquerdo as audiências médias diárias da TVI, 818 mil espectadores, portanto espero que vocês tenham a noção, nós somos 10 milhões, a TVI é o produto mais popular e mais visto de todos e tem 818 mil espectadores. Do vosso lado direito a entrada de IPs diária da página do Sapo. Outra vez, não é aqueles números alucinantes que nós estávamos a ver do Público mas outra vez a diferença começa a ser abissal. Aliás, um estudo recente da Microsoft Context Matters do ano passado ou do princípio deste ano revelava uma realidade absolutamente assustadora. Em Junho de 2010, os consumidores, média global, portanto, contando com o Ruanda, os consumidores vão finalmente passar mais tempo à frente de um computador online, do que à frente da televisão. O que quer dizer que no mundo ocidental, aquilo que nós chamamos de mundo ocidental, e não só, porque no mundo islâmico a internet também é uma ferramenta muito utilizada, até numa base popular, quer dizer que já passamos há muito tempo esse ratio. Quer dizer que já passamos muito mais tempo online à frente do computador a ver vídeos, a ouvir música, a falar com pessoas, a conviver nas redes sociais, do que estamos à frente da televisão, o que significa que a nossa mensagem é muito mais importante no computador do que na televisão.

Bom, a propósito disto, tem estado na moda a questão da política 2.0, de Obamas, Obamas, Obamas, Obamas... , eu queria-vos mostrar este magnífico trabalho para as eleições europeias. A certa altura o PS anunciou a contratação dos Açores do Obama para fazerem a campanha online, criaram uma coisa chamada” Sócrates 2009”, que eu recomendo, e anunciaram esta coisa, esta pequena maravilha:

“Boa tarde,

Sócrates 2009 é um movimento de participação, de cidadania que, usando as novas tecnologias, visa aumentar e promover novas dinâmicas de participação, de envolvimento, de partilha.”

E como é que vamos fazer com que as pessoas se envolvem, partilhem e vivam esta experiência maravilhosa da política 2.0? Bom, o Eng.º José Sócrates fez um número belíssimo de imitar Obama e disse que ía responder às perguntas dos portugueses online, é este aliás o princípio do vídeo. O problema é que o Carlos Zorrinho, o chefe do plano tecnológico não resistiu e então discursou durante 10 minutos de introdução. Aquilo que eu vos mostrei é só 15 segundos, ele falou durante mais 10 minutos sobre a importância das novas tecnologias. Isto no mesmo vídeo. E no fim, o vídeo tinha 43 minutos, eu estou a dar-vos números certos, estive a ver isto com cuidado, quarenta e três minutos, tinha 9 minutos de perguntas e tinha um total absolutamente extraordinário de 84 visualizações. Partindo do princípio que o Eng.º Sócrates pode ter visto o vídeo, são 83 pessoas, o Carlos Zorrinho viu-se de certeza, são três ou quatro vezes, obrigou a mulher a ver, e vocês vão reduzindo até à JS, até ao Duarte Cordeiro que deve ter clicado dez vezes porque era obrigado a isso e, de repente, a quem é que chegou esta mensagem extraordinária de envolvimento e participação dos cidadãos? O que é que está aqui mal?

Mas há pior! Nestas eleições europeias. Inês de Medeiros entrevista Vital Moreira. Eu vi o vídeo, eu sacrifiquei-me em vosso nome e fui ver o vídeo. Bom, são uma hora e seis minutos de vídeo, o que é uma coisa prática porque vocês estão no vosso emprego e têm a hora de almoço e a hora de almoço não chega para ver a entrevista da Inês de Medeiros ao Vital Moreira. É uma coisa prática, não é? Portanto, nós temos sempre aquela hipótese do “vou comer qualquer coisa” ou “vou ver a entrevista do Vital Moreira e tento deixar uma parte para o lanche, para a pausa do café”. Uma hora e seis minutos e um total absolutamente extraordinário de 8 visualizações. E aquilo que vos digo ali, “duas são minhas”, é mesmo verdade, porque o computador crashou a meio, 45 minutos, e eu tive que recomeçar, portanto conta como duas visualizações.

O que é que está aqui mal? Porque é que isto não bate certo? Entre os 43 minutos do Eng.º Sócrates, os 10 minutos de tempo de antena – são quase 15 de fama – do Carlos Zorrinho e 1 hora e 6 minutos de entrevista do Vital Moreira, o que é que está aqui mal? Bom, já vamos ver o que é que está aqui mal, mas antes de chegar aí vou-vos dar este pequeno exemplo, extraordinário exemplo do “Assim não”. Não sei se vocês conhecem isto do “Assim não”? Campanha do aborto, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

(Visualização do início do vídeo)

E pronto, eu acho que podemos ficar por aqui. Esta foi uma extraordinária campanha. Eu tive o privilégio de participar nesta campanha com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e nós tínhamos perto de 300 contos, tínhamos reunido isso numa jantarada e, das duas uma, ou fazíamos um outdoor, ou fazíamos vídeos na internet. Achámos aquilo divertidíssimo, os vídeos eram obrigatoriamente curtos, máximo 4 minutos, mensagens muito sintéticas, depois começamos a inventar, fizemos uns para enviar por email muito engraçados, baixa definição que era para poder fazer spam e viral, fizemos até para mandar por mms, isto há uma carrada de tempo atrás. E divertimo-nos imenso, aquilo teve muita notoriedade e estava a correr mesmo mesmo, mesmo bem. Mesmo bem! Aliás, as sondagens começaram a dizer, bom, havia o “sim”, o “não” e o “Assim não”. Isto éramos 3 ou 4 pessoas ali a divertirmo-nos a fazer vídeos. Até que houve um domingo infeliz...

(Visualização do vídeo http://www.youtube.com/watch?v=ixtI2EoqkO4)

Eu queria que vocês tivessem a noção da quantidade de preconceitos, daquilo que vos tinha falado, de imagens feitas com que eles brincaram. Aliás, o preconceito é uma óptima ferramenta de humor, porque toda a gente percebe e portanto toda a gente brinca com isso. E a certa altura explicar que o vídeo original tinha uma brutalidade de visualizações, eram 300 mil visualizações, e o vídeo dos Gatos Fedorentos que entrou logo online, logo, logo, logo assim que foi transmitido na RTP, tinha mais, o que quer dizer que havia mais gente a conhecer a paródia do que a mensagem original. E por isso é que o discurso do Vital Moreira não resultou.

Bom, nós entretanto, a coisa foi correndo bem, correndo bem, correndo bem, deixem-me só contar esta história, que eu a certa altura fui ter, preocupado, à Faculdade de Direito de Lisboa, tem aqueles corredores longos, compridos, para ir falar com o Professor, dizer-lhe “Nós precisamos de fazer qualquer coisa, uma reacção qualquer, os Gatos Fedorentos estão a acabar connosco”- que é sempre uma expressão simpática – “os Gatos Fedorentos estão a acabar connosco”. E o Professor dizia-me – nós íamos a passear no corredor – “Ah, não se preocupe!” e nós passamos por uns alunos e a certa altura eu ouço eles atrás a fazer “liiiiiiberalizar”. (risos) Foi-se a campanha. Foi-se a campanha, foi-se a mensagem.

Bom, isto para vos dizer que há um ciclo de propagação de ideias, há um novo ciclo de propagação de ideias. Começa na internet, começa nos blogues e no show media, naquela conversa de café que agora é substituída pelo “penso eu de que” no facebook ou no twitter, e que depois vai saindo cá para fora, vai saindo para a internet, regra geral, para os media e depois chega, mais cedo ou mais tarde, à opinião pública. Foi aquilo que aconteceu no “Assim não” e há milhares de outros casos assim. Carlos.

 
Dep.Carlos Coelho
Chegamos à última parte da nossa apresentação. 15 Conselhos para falar em público. Quais são os 15 conselhos?

O primeiro é não ter medo do medo. Vamos ser claros. Quem vos diz que não teve medo da primeira, a segunda, a terceira, a quarta, a quinta vez que falou em público, ou é uma pessoa muito especial, ou é, seguramente, um mentiroso. Nós temos sempre medo e é bom que tenhamos. Algum receio é o antídoto contra o excesso de confiança. Há asneiras que podemos fazer quando nos sentimos excessivamente confiantes.

Eu gosto muito de contar uma história verdadeira. No século passado, uma grande actriz norte-americana, Sarah Bernhardt, antes de entrar no teatro, um dia ela vira-se para uma corista e pergunta-lhe: “Então a menina, está nervosa?” e a corista olha para a grande Sarah e diz “Eu? Não. Eu nunca estou nervosa quando entro no palco.” e a Sarah diz “Há-de ter, há-de ter algum medo quando tiver algum talento.” Eu acho que é esta ideia que nós temos de ter, não tenham vergonha de ter receio antes de falar em público. Algum receio é bom, têm é que o gerir. E no receios há uma coisa clássica que é, o que é que fazemos com as mãos? Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, como o Carlos dizia, o nervosismo é uma coisa absolutamente natural. O nervosismo, medo, é uma reacção química do corpo. E a reacção química do corpo provoca-nos umas mexidelas, uns tremores. Mexidelas, tremores, o que é que fazemos com as mãos?, o que é que fazemos com as mãos? A melhor maneira de resolver o problema é criar um escape para o nervosismo. O meu escape é a caneta; gosto de andar porque preciso de andar, odeio estar ali parado, não consigo falar atrás de um púlpito, parado, prefiro andar porque ajuda-me a... (16 segundos inaudíveis)... brinco com a caneta para ter as mãos entretidas. Aliás, se vocês virem, o próprio Prof. Marcelo Rebelo de Sousa está na televisão e está a brincar com o relógio, criou um escape para o nervosismo. A pior coisa que pode acontecer é apanharem-vos de mãos nos bolsos, não se fala com ninguém de mãos nos bolsos ou com as mãos muito rígidas. E portanto vocês têm que habituar-se a criar um escape, eu quando falo atrás da mesa, por exemplo, estou a tremer o pé, ajuda-me, descontrai-me. Criem o vosso próprio escape para o nervosismo, vejam onde é que ele está, tentem arranjar um e ponham lá as mãos. Carlos.

(risos)

 
Dep.Carlos Coelho
Segundo conselho. Não atrair o abutres, ser firme. Nós costumamos dizer, (uma imagem que toda a gente compreende) que, as moscas são atraídas pelo sangue. Da mesma forma, numa Assembleia, os adversários são atraídos pela fraqueza. Se nós aparecermos numa Assembleia com a ideia que estamos muito nervosos, muito inseguros, muito hesitantes, se estivermos numa bancada e se houverem vários nossos a falar, a oposição vai atacar aquele que parece mais frágil. Portanto, nós não podemos atrair a atenção dos outros. Como é que o fazemos? Devemos aparentar mais firmeza do que sentimos, temos que representar a segurança. E uma coisa importante é olhar a Assembleia. Ora, vamos ser claros, há pessoas que me dizem “Mas eu não consigo olhar para a Assembleia, não consigo olhar para a cara, perco-me na cara das pessoas e perco a concentração”. Há um truque que é olhar para a última fila, o que eu estou a fazer neste preciso momento. Vejo quem é a pessoa mais alta da última fila, está exactamente no meio, imagino um palmo por cima da cabeça dele e estou a olhar, neste momento não estou a ver cara nenhuma, estou a ver um ponto branco na parede, um palmo acima da cara, da cabeça da pessoa mais alta que está na ultima fila. Vocês estão a olhar para mim e têm a sensação de que eu estou a olhar para a audiência – não estou, estou a olhar para a parede. Mas não estou assim, não estou com os olhos metidos no papel, não estou a trair a minha insegurança, não estou a revelar a minha timidez. Estou de peito feito, a olhar para a parede, a fingir que estou a olhar para a Assembleia.

Terceira recomendação. Não comecem a falar sem definir o objecto e o intuito. Sem definir o que querem falar, mas qual é a intenção? Eu posso fazer uma intervenção a apresentar um documento, a ser racional ou posso estar a falar num comício a querer transportar emoção. Portanto, definir o objecto não é só definir o que é que eu quero dizer, é como é que eu quero dizer. Qual é a reacção que eu quero que a Assembleia tenha depois da minha intervenção ou com a minha intervenção.

Um pedido de esclarecimento pode ser feito no contexto de uma Assembleia, para esclarecer, para tirar dúvidas ou para enervar o adversário. É um instrumento que pode ser usado com mais do que um objectivo. E até a figura regimental mais limitada, mais bitolada que é a resposta aos esclarecimentos... Reparem, eu estou numa Assembleia, o Duarte Marques faz-me um pedido de esclarecimento, eu tenho que lhe responder. Portanto, é a figura em que eu estou mais limitado, eu tenho que responder a um pedido de esclarecimento. A iniciativa não é minha, eu vou a reboque de uma iniciativa regimental. Mesmo isso pode ser trabalhado. Vou-vos dar aqui 3 exemplos que foram gravados o ano passado com a ajuda do Pedro Rodrigues para explicar o que é que uma pessoa pode fazer nas respostas aos esclarecimentos.

“E afinal o que é que a JSD propõe sobre o Arrendamento Jovem?”

“Senhor Primeiro Ministro, o que a JSD pretende é que institua em Portugal um sistema que promova e incentive o acesso dos jovens ao mercado de arrendamento. Pretende-se que se altere as regras de tributação das rendas, instituir um sistema de rendas controladas pelo Estado. Assim, permite-se que os jovens tenham a possibilidade de aceder ao mercado de arrendamento, sem XXX o orçamento de Estado”

Dep. Carlos Coelho – Na altura estava em causa uma iniciativa de JSD e imaginámos esta situação em que o Primeiro Ministro faz uma pergunta, “o que é que a JSD?” quer, e o Pedro Rodrigues explicou qual era o objectivo da JSD. Portanto vocês vêm uma resposta a um esclarecimento que é uma resposta de esclarecimento. Fizeram um pedido, eu respondi, esclareci melhor qual era a minha proposta, qual era o meu objectivo.

“E afinal o que é que a JSD propõe sobre o Arrendamento Jovem?”

O que a JSD pretende é que os jovens portugueses tenham possibilidade de ter uma casa, mas estamos também muito preocupados com o facto de milhares de jovens não terem emprego, não terem acesso ao ensino superior e de não existir em Portugal um sistema de educação que prepare os jovens para as suas vidas. O Governo devia ter respostas para todos estes problemas”

Dep. Carlos Coelho – O que é que o Pedro Rodrigues faz? Aproveita a pergunta sobre a habitação e a determinada altura já está, passado 10 segundos, a falar de desemprego, a falar de educação, a falar de outros problemas. Ou seja, colocou outros assuntos em cima da mesa. Ele aproveitou um pedido de esclarecimento para, na resposta, colocar outras questões em cima da mesa. Para, ou levantar outros problemas no sentido de criar dificuldades ao Primeiro Ministro ou porque não lhe convinha dar tanto tempo às questões da habitação. Não interessa agora porque é que ele o fez, interessa que ele usou a resposta ao esclarecimento não para esclarecer, mas de uma forma perfeitamente civilizada, não há aqui nenhuma reacção trauliteira, não há exercício demagógico, ele está a colocar outros problemas em cima da mesa. Pode ser um truque numa Assembleia importante.

“E afinal o que é que a JSD propõe sobre o Arrendamento Jovem?”

O que a JSD pretende é que os jovens portugueses tenham possibilidade de ter uma casa. Lamento que para si esta não seja uma questão relevante, o Senhor tem-se revelado absolutamente insensível em relação às dificuldades dos jovens portugueses. É absolutamente escandaloso que o Senhor Primeiro Ministro e os seus Ministros vivam desafogados em palácios de luxo, no centro da cidade de Lisboa, enquanto os jovens portugueses nem sequer têm condições para ter a sua própria casa”

Dep. Carlos Coelho – Ok, aqui um registo um bocadinho mais demagógico, mas é um contra-ataque. Portanto, o Primeiro Ministro perguntou “O que é que os senhores querem da habitação?” e o Pedro Rodrigues diz “O que é que o senhor está aqui a falar da habitação, quando o senhor habita num palácio de luxo, devia ter vergonha, o senhor não tem nenhum dos problemas dos jovens portugueses”. Portanto, já está aqui num contra-ataque, a comunicação social no dia seguinte diria: “Pedro Rodrigues denuncia que Sócrates vive num palácio” ou coisa assim no género.

Reparem, a resposta ao esclarecimento, que é a figura regimental mais limitada, vocês têm que responder, pode ser usada para responder, pode ser usada para colocar outros assuntos em cima da mesa ou pode ser usada para contra atacar.

Antes de começarem a falar, definam as ideias chave, ordenem as ideias e os argumentos, escolham aquilo que pretendem transmitir,

Quarto conselho. Não ignorar a audiência. Disse há pouco que não é necessário olhar a cara das pessoas, ou devemos olhar a parede, mas é melhor olhar a cara das pessoas. Porque olhando a cara das pessoas nós temos uma ideia se elas estão a gostar, se estão a dormir, se estão acordadas, se estão a concordar ou se estão a discordar, se estão contentes ou se estão exasperadas. Discursar não é falar, discursar é comunicar, é interagir, é falar com, não se fala para, fala-se com e também se fala com uma audiência. Há uma sigla que reproduz isto que é o AIR - Atenção Interesse Recordar. Nós temos que suscitar a atenção da Assembleia, temos que motivar o seu interesse e temos que garantir que aquilo que estamos a transmitir seja recordado, passe aquele limite dos 45 segundos que o Rodrigo vos falou há pouco.

Quinto conselho. Não esquecer que não se ouve um discurso, vê-se um discurso. Portanto, há que representar o discurso, há que transmitir argumentos mas também emoção. E fala-se com o corpo, cuidado para não apalhaçar, sobretudo se estivermos com pessoas ao lado, esgrimir com as mãos podemos estar a esbofetear quem está ao nosso lado na mesa ou a deitar copos com água inundando a mesa toda, portanto, cuidado com os exageros. Mas a ideia de representar o discurso faz parte da comunicação.

É errado quando se diz que se ouve um discurso, vê-se um discurso, nós comunicamos com todo o nosso corpo. Mas cuidado com os tiques. Este senhor foi Primeiro Ministro de Portugal, um homem com uma grande capacidade de comunicação – infelizmente isto não tem som – mas tinha o tique da melena, não havia nenhuma entrevista televisiva, ou debate, ou aparição do Eng.º Guterres em que não estivesse toda a gente a ver quando é que ele ía ajeitar o cabelo, era um tique de que ele abusava.

Marcelo Rebelo de Sousa tinha acabado de ser eleito a Presidente do PSD, deu uma entrevista a uma dupla na altura um pouco mais nova, Margarida Marante e Miguel Sousa Tavares e, durante a entrevista, para provar que era capaz de escrever com as duas mãos, tomava notas ou com a caneta na mão esquerda ou com a caneta na mão direita. Fazia desenhos que ninguém percebia o que é que era porque ninguém via, o problema é que em determinada altura os ouvintes já não estavam fixados nas mensagens do Professor Marcelo, mas estavam concentrados naquele jogo da caneta salta da esquerda para a direita, da direita para a esquerda e toda a gente a querer perceber o que é que ele estava a desenhar, não estava, estava a fazer risquinhos num papel. Um tique que podia ter funcionado, como o Rodrigo disse há pouco, como escape para o nervosismo, mas acabou por concentrar as atenções, é melhor escapes para o nervosismo mais discretos e menos aparatosos.

Não se esqueçam, os outros vêem e há gestos que valem por mil palavras, portanto a mímica é bastante eficaz quando nós queremos e podemos usá-la.

Sexta recomendação. Tenham atenção à vossa imagem as pessoas só votam em quem confiam. Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, é que eu sou mesmo a favor dos preconceitos. E por falar em preconceitos, queria-vos mostrar aqui uma pequena imagem, eu não sei se vocês reconhecem... E o preconceito disto, um tipo destes, vocês elegiam este senhor para algum cargo público? Quer dizer, se o vissem na rua não mandavam vir a polícia, com medo? A verdade é que Lula candidata-se três, quatro vezes à presidência brasileira, perde sempre, sucessivamente, até que um dia se apresenta a votos de outra maneira. Cá está ele, gravata quase monocolor, pinezinho na lapela, a barba aparada, o cabelinho arranjado, este sim, é um homem a quem nó podemos confiar a chave de um carro, de uma casa, já lhe emprestamos o país, para ele poder governar e ele assim, sim, ganha as eleições. Reparem como ele está diferente daquela imagem de sindicalista árduo e trabalhador que tinha há uns anos atrás.
 
Dep.Carlos Coelho
Sétimo conselho. Não falem sem sentir o que se diz; recusem o discurso monocórdico, transmitam as vossas emoções, aquilo que vocês acham, aquilo que sentem, aquilo em que acreditam. As pessoas sentem quando nós falamos com o coração e sentem quando nós estamos a mentir. A autenticidade do discurso é um elemento essencial da sua eficácia.

Oitava recomendação. Ganhem a simpatia do público. O primeiro discurso não tem de ser um discurso muito elaborado, mas deve ser um discurso que ganhe a simpatia do público. Sejam modestos sem serem humildes ou simplórios; não tenham receio de parecer simples. Às vezes nós nas primeiras intervenções queremos dar ideia que somos uns grandes trutas, capazes de fazer discursos muito complexos, isso não é o mais importante, sobretudo se se é jovem.

Fizemos um exercício simulado, pedimos a ajuda do Rodrigo há algum tempo, e isto é uma imagem que fizemos na Assembleia da República.

“Senhor Presidentes, senhores Deputados, como todos sabem, é a primeira vez que tenho a honra de me dirigir a esta Assembleia. Eu gostaria de aproveitar a ocasião para cumprimentar todos os partidos sem qualquer tipo de excepção. Eu gostaria de dizer que todos fomos eleitos legitimamente e que existe uma legitimidade para respeitar. Gostaria também de dizer que nem sempre estaremos de acordo mas espero muito honestamente, que o debate decorra de forma civilizada, tal como a nossa democracia atingiu um grande grau de maturidade. Muito Obrigado.”

Dep. Carlos Coelho – Não é um discurso muito substancial, até teve um tropeço, mas a pessoa ouve e fica com um ar de simpatia. “Oh pá, o puto está a dar as primeiras palavras, foi elegante, não atacou os outros, disse qual é o espírito com que está aqui”, ganhou a simpatia dos interlocutores. Não desconsiderem esta ideia de ganhar a simpatia.

Nona recomendação. Não sejam chatos. Não façam como o Rodrigo e eu que já estamos a falar há mais de um hora, sejam breves e concisos, não falem mais de 20 minutos, não falem depressa demais, cuidado quando se fala sem papel o discurso cresce, atenção quando falam sem papel, tenham a noção do tempo. Não falem demais e recusem o discurso redondo. O que é o discurso redondo? Todos nós passamos por essa fase, a ideia que temos que falar com elegância. A comunicação não é um concurso de elegância, é um concurso de eficácia. Entre ser muito sofisticado ou mais eficaz, o que interessa é ser eficaz, não é utilizar palavras muito complicadas para as pessoas dizerem: “Este gajo é muito inteligente”. Não, é utilizar palavras que toda a gente compreende, para que toda a gente perceba o que nós dizemos. Temos aqui um exemplo de um discurso redondo. Na altura era deputado da JSD, Gonçalo Capitão, pedimos-lhe para ele fazer...

«Houve quem, decerto sem intenção, colocasse em dúvida a legitimidade da nossa posição que aqui quisemos defender, esquecendo-se porventura de que na composição da nossa pirâmide etária demográfica, perto de 40% da população se encontrar abaixo da linha demarcadora dos 30 anos

Uma pessoa ouve isto e pensa: “O que é que ele quer dizer? O que é que ele quer dizer com esta coisa?”. E o que ele quer dizer é uma coisa muito simples e pode-se resumir de uma forma mais clara...

«E para quem queira colocar em causa a legitimidade da nossa posição, basta recordar uma frase simples que toda a gente entende: que metade da nossa população tem menos de 30 anos.»

Era isto que ele queria dizer, era isto que ele queria dizer. Só que a primeira vez, num discurso escrito talvez funcionasse, num discurso oral não funcionou, o que ele queria dizer é que não podem discutir a nossa legitimidade de deputado da JSD de estar aqui, porque metade dos eleitores têm menos de 30 anos, metade dos cidadãos tem menos de 30 anos. Portanto, aqui o discurso mais cru, mais simples, mais directo é, de longe, mais eficaz.

Décima recomendação. Nunca decorem um discurso escrito. Quem decora um discurso escrito, arrisca-se a perder a meio e depois já não consegue apanhar, aconteceu a um dos melhores parlamentares de sempre, Sir Winston Churchill, na Câmara dos Comuns, decorou o discurso, a meio teve uma branca e já não foi capaz de retomar o discurso. Porque um discurso memorizado é como uma cadeia, se vocês tiverem notas, se faltar uma podem sempre passar para a seguinte, há sempre forma de retomar a linha. Ou seja, discurso lido é discurso escrito, discurso escrito é discurso lido, se não querem ler, se querem falar, é melhor terem um papel, um cartão com notas mas não memorizar um discurso escrito. E nunca peçam a outros para escrever um discurso, se o fizerem, adaptem com as vossas palavras, com o vosso ritmo. Quando nós lemos um discurso feito por outros, cheira a falso, soa a mentira, as pessoas percebem que nós não estamos a viver  a nossa mensagem.

Nunca descurar as defesas, incluir grandes princípios num discurso escrito, num discurso de fundo, que todos têm que subscrever. Assim antecipar ataques, quando alguém diz: “O senhor não disse nada que merecesse a nossa atenção.”, “Não disse? Eu até disse: não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os cidadãos”, quem é que discorda disto? Quem é que discorda de dizer: não há progresso justo em Portugal, sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país. Quem é que discorda da necessidade de reduzir as assimetrias de desenvolvimento entre o Litoral e o interior, o Norte e o Sul, a cidade e o campo”.

São grande princípios, em função do tema da intervenção, que reduz a capacidade dos nossos opositores de dizer: “O que o senhor disse foi completamente irrelevante, não disse nada de jeito.” “Não disse? Então é porque o senhor não concorda com isto!”

Atenção a palavras e conceito como informação, participação dos cidadãos, qualidade de vida, ambiente, bem estar, transparência de administração, vocês num discurso de fundo conseguem sempre pôr conceitos e princípios que são relativamente universais.

Décimo segundo conselho e estamos já a terminar. É melhor responder que não se sabe do que simular conhecimento. Não há nada pior em política do que o ridículo, a pessoa fingir que sabe e ser apanhado na curva. Portanto, se eu estiver num debate, por exemplo numa rádio, e for confrontado com uma coisa que não sei, a pior coisa que eu posso fazer é fingir que sei e depois ser desmascarado. É melhor arranjar um escape, dizer “Nunca tinha visto este problema sob esse ângulo, parece-me interessante, pode ser talvez perigoso, ou inaplicável ou de difícil execução, mas gostaria de pensar um pouco melhor antes de me pronunciar”. A pessoa diz “Olha que curioso, aqui está uma pessoa séria, não é precipitado.”

Uma forma mais elegante é dizer ao nosso interlocutor: “Evocou argumentos novos que merecem reflexão”, “Se reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesá-los com outras opiniões, e voltar ao assunto na próxima oportunidade”. Encontrar uma forma elegante de sair, mas não nos deixarmos atolar numa situação em que, objectivamente, nós não dominamos o jogo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Não se deve falar daquilo que não se sabe e também não se deve falar como não se sabe. Vamos ver aqui um pequeno exemplo, estou certo que todos conhecem este vídeo. Toda a gente conhece este vídeo? Isso é BUZZ. Eu recordo-vos que este vídeo, há uma conferência com o George Bush logo depois do escândalo da Universidade Independente e da questão do Inglês Técnico, portanto esta foi a reacção do Primeiro Ministro.

(Visionamento do vídeo)

meadle west”! Bom, escândalo da Universidade Independente, Inglês Técnico e o nosso Primeiro Ministro resolve explicar que sabe falar inglês. Era escusado. O Putin quando vai à Casa Branca - primeiro não vai à Casa Branca – mas o Putin se se encontra como George Bush falava em russo, o Sarkozy faria questão em falar em francês, o nosso Primeiro Ministro não, teve a necessidade de explicar que sabia falar inglês técnico e que sabia vagamente onde é que era o meadle West. Carlos.

 
Dep.Carlos Coelho
Vocês... não sei se ainda há... presumo que está em linha, pelo menos nos arquivos da Casa Branca, é notável a transcrição... A Casa Branca tem um serviço de imprensa fabuloso e portanto passado 20 minutos dos acontecimentos terem lugar eles estão a fazer um press release com a transcrição integral dos debates que são em público, naturalmente, não aqueles que são à porta fechada. Portanto, nestes números eles enviam para os jornalistas a transcrição daquilo que aconteceu. Portanto, as declarações do Sócrates e as declarações do Bush. Nas declarações do Sócrates, várias vezes eles põem (sic) porque os erros são tantos que eles não querem que seja atribuído ao serviço de imprensa da Casa Branca a responsabilidade do disparate e então põem à frente (sic) – ele disse mesmo isto, que é uma coisa verdadeiramente notável.

Bem, décimo terceiro conselho. Atacar com firmeza, protegendo a retaguarda. Nunca afirmem o que não sabem ou aquilo de que não têm provas. Uma expressão é o “parece”, o “parece” não é geralmente uma coisa que nós recomendemos no debate político, na mensagem política, mas nestes casos pode ser útil. Por exemplo, frases como esta – vamos supor que há uma escandaleira, eu sou membro de uma assembleia municipal, há uma escandaleira que envolve o Presidente da Câmara do Partido Socialista e eu faço uma declaração na assembleia municipal que digo:  A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas” e se eu disser, reparem na força da palavra “ e temos que retirar consequências políticas e criminais”, estou a subir um bocadinho mais o... Ninguém pode acusar de nada, eu digo “a confirmaram-se os rumores que correm”, nem sequer estou a falar do caso, toda a gente sabe, toda a gente sabe... Mas posso dizer com ar solene ““Estamos muito preocupados com informações que circulam que, a confirmarem-se, a confirmarem-se, são prova da mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos públicos” ou posso dizerBoatos com esta gravidade têm de ser desmentidos, sob pena de minarem a credibilidade de autarcas que, até prova em contrário, devem merecer a nossa consideração”. Uma forma elegante de transpor para o terreno institucional, sem sermos acusados de nada, um rumor que corre na opinião pública relativamente  à honorabilidade do Presidente da Câmara do PS.

Décimo quarto e penúltimo conselho. Nunca atacar com maldade, dosear a agressividade. Nunca façam ataques pessoais, mas podem insinuar com fundamento e com clareza. Se formos atacados, devemos representar a indignação, deixá-los envergonhados. Nós temos 3 exemplos, eu não vou passar os três, vocês depois vão ter isto tudo acessível na intranet para fazerem o download, deixem-me só mostrar como é que o então Deputado Gonçalo Capitão, respondeu a um ataque do Partido Comunista.

Não deixa de ser surpreendente que o Partido Comunista, que tanto sofreu para que pudéssemos ter hoje a nossa liberdade, incorra agora naquilo em que acusou os fautores do anterior regime: o ataque pessoal, a calúnia, a difamação e em certo aspecto a tortura psicológica. A História encarregar-se-á de remeter o Partido Comunista para a arqueologia. Para já agradecíamos apenas que fossem mais correctos.”

Portanto, fomos atacados e dissemos aos Comunistas o pior que se lhe pode dizer. “Os senhores são como os fascistas”. Primeiro faz-se o tributo “os senhores lutaram pela liberdade, pela democracia”, “ e agora estão a fazer o mesmo que os fascistas”, pá, deixa qualquer comunista doido. É reagir tocando onde é mais sensível. Podemos ser filhos da mão educadinhos, isto é, ser simpático quando de ataca. Dois exemplos diferentes:

“Vossa Excelência é de facto um orador interessantíssimo, dir-se-ia que tem um discurso muito agradável, um discurso light, mas de tão light emagreceu excessivamente o conteúdo e não lhe descortinámos ponta de ideia.”

Ou, num registo mais simples:

“Óh Sr. Deputado, isso de facto é brilhante, é brilhante, eu confesso que não tenho metade das suas capacidades como orador, agora aquilo que eu sei é que o embrulho era fantástico, agora de conteúdo, zero. Zero!”

Portanto, um ataque filho da mãe educadinho, um estilo...

Décimo quinto e último conselho. Nunca admitam ser inferiorizados pela idade, sexo, cor da pele ou o que quer que seja. Sempre que isso acontecer, têm que se vitimizar e recorrer à defesa da honra. Um exemplo da defesa da honra do Gonçalo Capitão:

“Deixe-me dizer-lhe que posso ser mais novo que o senhor mas estou aqui com a mesma legitimidade. Os votos que me elegeram são tão bons ou melhores que os seus. E não admito que me discrimine em função da idade, porque nesse caso seria obrigado a dizer-lhe que V. Exa. já prescreveu.”

(risos)

Nunca aceitem ser discriminados sem reagir.

Finalmente, numa das Universidades de Verão, houve alguém que me disse: “Ok, mas o que é que acontece se a discriminação for múltipla?” Nós somos um país um bocadinho machista, ainda e, nalgumas áreas, racista. Portanto eu quero que imaginem a situação de uma mulher, jovem, negra, que é ridicularizada numa assembleia. O que é que ela deve fazer? Nós começamos a pensar nisso e achamos que o ideal seria uma resposta deste género. É a miúda pegar no microfone, virar para o seu agressor, provavelmente um homem mais velho, branco e dizer-lhe: “Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que o perturba mais... (para qualquer homem a ideia de estar perturbado por uma mulher é logo um ataque baixo) ...não sei o que o perturba mais: se o facto de ser jovem, de ser mulher ou de ser preta? Hã?”. Logo assim na tromba dele. Qualquer dos receios... (dizer a um homem que tem receios é dizer que ele é maricas)... qualquer dos receios  só por si já o deveria embaraçar. Concentre-se no que eu aqui afirmei e na razão que me assiste. Tudo o mais é preconceito que o deveria envergonhar.»

Se puderem fazer alguma coisa deste género, ganharam a assembleia toda do vosso lado. O sangue frio valoriza a reacção e impede o disparate. Se o conseguirem, ganharam a comunicação.

(Aplausos)

 
Duarte Marques
Muito bem, vamos começar a fase das perguntas e respostas. O primeiro grupo a colocar questão é o Grupo Cinzento e tem a palavra a Vanessa Pajuel.
 
Vanessa Pajuel
Bom dia Rodrigo. Considera os media como um quarto poder?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, bom dia Vanessa. Mais do que isso, aliás, a capacidade que eles têm de gerar preconceitos e de mexer com a nossa vidinha do dia a dia é absolutamente extraordinária. Acho que não deve ser menorizado. Mas eu abrangia, eu alargava a definição de media, portanto não pense em media com as televisões, os jornais, as rádios, o media normal. Agora acrescente-lhe todos os outros canais de comunicação que você foi criando, desde o outdoor até ao facebook. Conhece algo com mais poder  para espalhar a mensagem que um facebook ou que um twitter? Quando você tem uma rede bem montada, isso sim é capacidade de poder, e poder é poder influenciar os outros. Portanto sim, os media são uma quarto poder se tiver em conta que, tem que ser um conceito mais alargado.
 
Duarte Marques
Obrigado Rodrigo. Catarina Castelhano do Grupo Roxo.
 
Catarina Castelhano
Bom dia. Tendo em conta todas as características que falaram, consideram que o carisma é uma qualidade indispensável para um político?
 
Dep.Carlos Coelho
No exercício de liderança, sim. Mas nem todos os políticos têm que ser líderes, se tivermos que optar entre o carisma e a credibilidade, eu diria que preferia a credibilidade. Eu não me considero uma pessoa carismática e não acho que seja um mau político. Portanto, o líder de um povo tem que ser carismático, ou deve ser carismático. A História registou líderes que foram importantes nas histórias dos seus povos que não eram exactamente carismáticos. Mas essa não é a qualidade para todos nós e não é uma qualidade que deva vir desirmanada de outra qualidades
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu até acrescentava aqui outra coisa. Consegue imaginar um cenário pior de alguém com meio metro, bigodinho, cabelo assim meio pingado, que coxeava ligeiramente e tinha uma série de problemas psicológicos, eu estou-lhe a descrever um dos líderes mais carismáticos da História, para o pior, que é o Adolf Hitler. Para lhe dizer que o carisma não é uma coisa que se nasça com, constrói-se pelos nossos próprios feitos. O carisma é aquilo que os outros pensam de nós e o preconceito que geraram de nós, portanto é aquilo que vocês está a pensar enquanto me está a ouvir a falar. E portanto isso conquista-se, vai-se construindo, e às vezes não se faz de propósito, simplesmente acontece sem nós explicarmos muito bem porquê. Mas para lhe dizer isso, o carisma não se nasce com, constrói-se.
 
Duarte Marques
Muito obrigado.  Ana Lúcia Raposo do Grupo Castanho.
 
Ana Lúcia Raposo

Bom dia. Hoje em dia assiste-se cada vez mais a discursos artificiais, contidos e regrados por parte dos políticos. Gostaríamos de saber se tem realmente que ser assim ou se há espaço para a humanização do político. (10 segundos inaudíveis) Gostaríamos de saber se tem realmente que ser assim ou se há espaço para a humanização do político.

 
Dep.Carlos Coelho
Eu não diria que há espaço para a humanização do político, eu acho que é necessário humanizar a política. O debate que nós fizemos ontem à noite ao jantar com o Dr. Marques Mendes foi isso, quer dizer, nós percebemos que hoje os cidadãos estão mais longe da política. A política nalgumas áreas tornou-se mais técnica, noutras tornou-se mais complicada sobre o ponto de vista dos valores éticos que transmite e portanto há um afastamento. Vocês reparam que muitas vezes se diz: “ele está a falar politiquês”, portanto a ideia que há uma linguagem da política que não é uma linguagem da vida real. Ele está a falar politiquês, a ideia de que os políticos usam termos que são deles, quer dizer…. eu acho que isso é errado, portanto se nós vamos para a política, se vocês forem para a política falar politiquês, estão a ser iguais aos outros, não fazem diferença. Portanto, quando eu vos disse há pouco, com aquela coisa do coração, falem com o coração, falar com o coração é falar com autenticidade, é falar com humanidade usando as suas palavras. Portanto eu sublinharia isso. Se vocês forem capazes de falar com mais humanidade, falar para as pessoas, falar a linguagem deles, falarem com o vosso coração, falarem de forma autêntica, marcam a diferença e levam as pessoas convosco.
 
Duarte Marques
Ok, muito obrigado. Pedro Góis Moreira do Grupo Laranja.
 
Pedro Gois Moreira
Boa tarde. Tenho uma pergunta para Carlos Coelho: A um certo momento você diz que não se deve fazer escrever o seu discurso por uma outra pessoa, mas grandes líderes como Barack Obama ou então Sarkozi que têm discursos bastante impressionantes, fazem escrever os seus discursos por um staff de pessoas, por ex, Sarkozi, faz escrever o seu discurso por 23 pessoas. Será que sim ou não. Temos que... enquanto políticos fazer escrever os nossos próprios discursos e se sim até que ponto.
 
Dep.Carlos Coelho
Boa pergunta, Pedro. Eu não digo que vocês não tenham contributos…eu posso ter um texto totalmente escrito por outra pessoa…o que eu digo é que se vocês tiverem um texto totalmente escrito por outra pessoa, não o leiam sem o alterarem vocês próprios, isto é, porque há palavras, há entoações, há estruturas de frase…hum….nós em edições anteriores da Universidade de Verão pusemos um vídeo que foi o Dr. Pedro Santana Lopes, quando foi Primeiro-Ministro, a ler um discurso que não foi feito por ele e que objectivamente ele não adaptou ao estilo dele….foi um fiasco monumental… na tomada de posse… Porquê? Porque aquilo não era o estilo dele, as pessoas que estavam a ouvir diziam ”Isto não é o Pedro Santana Lopes”… diferença era gritante…

Não conheço pessoalmente, Sarkozi mas tem a reputação de alterar todos os discursos que são feitos pelos vinte e não-sei-quantos Ghost Writers que ele tem a trabalhar para ele… pega naquilo e dizem que aliás é pouco simpático para os colaboradores e diz “atrasado mental, não é nada disto que tens que escrever, pá”

Obama tem um Ghost Writer preferido que já está tão intrincado com ele, que ele já escreve o que o Obama pensa, portanto, praticamente vive ao lado dele, quer dizer, portanto, ouve as piadas, ouve as dicas e portanto, quando o Ghost Writer escreve é quase como se o Obama escrevesse, quer dizer, ele não escreve para quem escreve, ele escreve para a……como se fosse a pessoa que vai ler e portanto há ali quase que uma identificação de personalidade que permite isto.

Agora….amanhã vocês podem ter responsabilidades tais que tenham uma pessoa dessas a trabalhar convosco alguém que cria uma grande confiança e que é quase unha com carne, hã? Mas é mais razoável presumir que durante alguns anos, pelo menos, vocês não tenham essa possibilidade e portanto, se numa assembleia municipal, no Partido ou na vossa associação de estudantes ou em qualquer outra dimensão da vossa acção cívica, pedirem uma ajuda a um amigo ou uma amiga para vos prescrever umas linhas, o que eu vos digo é: Não leiam aquilo sem trabalharem, não façam uma atitude passiva e dizer “Ok…eu sou o presidente de uma Associação de Estudantes, vou pedir ao meu vice-presidente para me escrever o meu discurso, depois vou lá e leio.”… não vai funcionar. Portanto leiam primeiro para vocês, adaptem, com as vossas palavras, treinem, façam com que aquilo soe a sincero, a autêntico e para isso tem que ter a vossa marca.

 
Duarte Marques
Muito obrigado. Hélio Rebelo do Grupo Rosa.
 
Hélio Rebelo
Bom dia. Hoje em dia o marketing político trabalha bastante a imagem dos políticos, no entanto o que nós verificamos é q há políticos que aproveitam e outros que não… Ainda ontem à noite tivemos aqui o Dr. Marques Mendes como excelente discurso, no entanto, nós comentávamos no bar, quando fomos beber uma cerveja, que efectivamente, apesar de ser um óptimo orador, dificilmente com a imagem que tem chegaria a Primeiro-Ministro, ou teria grandes dificuldades. No entanto, por ex, temos a Dra. Manuela Ferreira Leite, que vai ser a próxima candidata a Primeira-Ministra, com uma imagem pesada, mas que por ex, na ultima entrevista que fez com a Judite de Sousa, disse claramente que não utilizava o teleponto, que não estava preocupada com a imagem, que era assim e que gostava de ser assim. A pergunta que vos faço é esta: A negação deste tipo de formação também pode ser uma vantagem? Dizer “Eu não tenho essa necessidade, eu não vou enganar ninguém, eu falo como vocês, eu também me engano”?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bem, eu começava só por dizer Hélio, que a Dra. Manuela Ferreira Leite não é a próxima candidata a Primeira Ministra…há-de ser é a próxima Primeira Ministra…é outra coisa, é outra coisa diferente….

(Aplausos)

À parte deste meu ataque de clubismo, que eu à vezes também tenho… Eu acho que percebi o que você quis dizer, a negação do marketing político e dos produtos de comunicação política podem ser benéficos para um candidato, podem, eu lembro-me do exemplo que costumo dar variadíssimas vezes do nosso companheiro de Aveiro que é um senhor que tem mais ou menos 5m de largura…eu estava a ver se me lembrava do nome dele….o Hélio…o Hélio Maia… um senhor que tem mais ou menos 5m de diâmetro, assim uma coisa redonda, simpática, com um bigode assim muito simpático e anda sempre de uma maneira muita espontânea e natural e muito despenteado… Eu costumo dizer que se tivesse lá ido, a Aveiro, antes dele ser candidato, tinha-lhe dito: “Ó companheiro essa barriguinha…isso já ia umas horinhas de ginásio, não é?” Quer dizer não pode ser eleito com as pessoas a pensarem que você vai ter um AVC a qualquer minuto, não é?... O bigodinho foi na década de 70….já passou, acabou, já passamos à frente… punha-lhe um blazer, uma gravatinha, fazia um bocadinho aquele trabalho do Lula da Silva, aquelas coisas do ensinava-o a falar, etc., etc... E que podia acontecer era que ele de certeza que perdia as eleições. Porquê? Porque não era assim que as pessoas o conheciam, não era esse o preconceito, era falso, era uma coisa plástica, tal como você estava a dizer, mas não era assim que as pessoas o conheciam e portanto ele candidatou-se da maneira mais natural, da forma como sempre foi presidente da Junta, (ele foi presidente da Junta durante 30 anos lá em Aveiro) e candidatou-se assim e ganhou! Porque é assim que as pessoas o conhecem, o reconhecem, o preconceito era bom em relação a ele, não tentou mudar isso… Isto para chegar onde? Sim, a Dra. Ferreira Leite tem uma coisa que joga a seu favor que é negar e não… dá-se mal, não gosta, aliás eu já ouvi dizer …. Odeia um comício….e qual é o mal? Qual é o mal?

Nós é que temos a mania, um bocadinho, cada vez que temos que dizer “Agora você vai discursar…” porque é que eu em vez de discursar não posso falar? A mensagem chega lá na mesma e é bastante mais eficaz. Nós é que já montamos aqui um sistema horripilante de que eu cada vez que estou em pé atrás de um púlpito tenho que falar com uma voz grossa e ser sério e credível e muito sério e muito sério…não! Posso falar, posso-vos dizer exactamente e mesmíssima coisa com este tom de voz, falando convosco, esperando ouvir as vossas respostas, e isso resulta, portanto não tenho uma dúvida, voltando ao princípio, não é a próxima candidata a Primeira-Ministra, é a próxima Primeira-Ministra.

 
Duarte Marques
Muito bem Rodrigo, é isso mesmo. Vamos a Beatriz Ferreira do Grupo Encarnado.
 
Beatriz Ferreira
Bom dia a todos. A minha pergunta é sobre a relação dos jovens políticos com os seus partidos. Eu penso que toda a gente nesta sala já alguma vez experimentou a sensação de um lado ter os militantes do PSD, tendencialmente mais conservadores e com uma forma mais universal de fazer politica e do lado oposto ter os jovens, especialmente a JSD, com uma forma muito mais irreverente, dotados de uma grande dose de loucura e que funcionam muitas vezes como o braço armado da Social Democracia….eu gostava de saber que postura devem os jovens políticos ter, na estrutura dos partidos, tendo em conta a estratégia de comunicação que devem adoptar, estas duas posições, a necessidade de haver uma harmonia nas estruturas dos partidos e, claro, respeitar o espírito da JSD. Obrigada.
 
Dep.Carlos Coelho
Ó Beatriz o meu conselho é que sejam autênticos, sejam aquilo que vocês são. Essa base de partida, senão soa a falso. Ora eu estou numa assembleia de militantes, tenho metade de pessoas mais jovens e metade de pessoas mais idosas. Qual é o meu target nesse discurso? Depende. Se eu quiser mobilizar os meus colegas jovens, eu tenho que fazer um discurso mais jovem, se eu quiser usar uma estratégia de sensibilização dos militantes mais idosos, eu tenho que falar para os mais idosos. Depende, depende de qual é meu objectivo para aquela assembleia, portanto é falar para o meu público. Quem é o meu target em cada momento.

Vamos supor que a JSD quer fazer uma iniciativa, mas que precisa do apoio do partido. Eu tenho que estar a falar para os outros. Agora vamos supor que restamos a discutir bandeiras políticas e eu quero afirmar a bandeira da J. Eu se calhar tenho é que mobilizar os meus. Não é frequente, mas pode acontecer numa assembleia em que nós não conseguimos falar para todos…o ideal numa assembleia é conseguirmos falar para todos, é termos um registo que todos percebam, embora uns podem aderir mais que outros. Se isso não for possível, nós temos que decidir para que parte da assembleia é que estamos a falar. Vamos supor uma resposta mais clássica... uma assembleia municipal. Eu posso numa assembleia municipal estar a falar para a minha bancada, posso estar a falar para os meus cidadãos, se tiver projecção mediática ou se estiver cheio de público com um problema concreto ou posso estar a falar para a bancada do outro partido. Para atacar ou para confrontá-los com as suas incoerências. Agora, eu tenho é que definir qual é o meu target e em função do meu target eu adapto a minha linguagem. É tão simples quanto isso.

 
Duarte Marques
OK, obrigado. David Barata do Grupo Bege.
 
David Barata
Bom dia. Em nome do grupo bege quero felicitar-vos pela pertinência e qualidade das intervenções. E a pergunta é : Almeida Garrett apresenta em 1845 a comédia “Falar a Verdade da Mentira ”. Nesta história, Duarte, o charlatão, cria uma farsa com os seus parceiros. O rolo de mentiras, adiado ao longo do drama ganha uma forma tal, que no final, as mentiras acabam por se tornar verdade, perante a perplexidade do próprio Duarte. Como se convencem agora os Portugueses de que estão errados com o que lhes foi dito?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, para começar deixe-me fazer aqui uma citação do Almeida Garrett. Dizia ele:”o meu nome tem dois Ts, ao menos que se leia um…”, portanto Garrett, a sério, não, não, sem suplesses linguísticas.

Como é que se convence os Portugueses ou como é que se faz com que os Portugueses vejam a verdade? É um trabalho duro, mas é o trabalho que o Partido tem estado a fazer ao longo destes últimos meses. Eu tenho aqui uma tese divergente, nós temos que mostrar a verdade e é o trabalho que está a ser feito. E depois temos que obrigar as pessoas a acordarem, que é um trabalho ainda mais difícil de fazer. E isso parece-me que não há nenhum partido ou nenhuma acção de marketing que possa resultar nesse acordar. As pessoas têm que, de facto, querer acordar, porque o problema aqui é mais grave ainda… É que há muita gente a não querer acordar, que prefere ser embalada nesta sonolência simpática de que tudo estará bem e de que em Setembro continuam a ter emprego. Preferem acreditar nisso, não estão para se maçar com o assunto e isto não é, não há nada que um partido ou que um líder político, seja ele quem for, possa fazer. Às vezes acontece só as coisas virarem e pode que toque um despertador qualquer. Não sei, vamos ver, espero quer sim, tenho quase certeza que sim, que em Setembro vamos ter um despertador a tocar e que as pessoas vão perceber o que é que andaram a fazer ou o que é que lhes andaram a fazer enquanto elas dormiam.

 
Duarte Marques
Obrigado Rodrigo. Afonso Santos do Grupo Amarelo.
 
Afonso Santos
Bom dia. A nossa pergunta é: como ganha a atenção e a confiança de um público hostil? A confiança e a atenção de um público hostil?
 
Dep.Carlos Coelho
Bem, a pergunta é muito interessante, a resposta é mais complicada porque depende das circunstâncias. Depende das circunstâncias. Portanto, eu estou numa assembleia hostil, ok? Vamos supor que eu sou comunista e aterro aqui nesta, na Universidade de Verão. Vocês olham todos para mim, Eu sou, por exemplo, o líder parlamentar do PCP, o Bernardino. Que aliás é um gajo porreiro. E vocês olham para…e dizem: “está aqui o comunista”. O que é que ele faz? Qual é o objectivo dele nessa assembleia? Se ele quer, vamos supor, que ele quer vitimizar-se e está rodeado de jornalistas. Ele não tem cuidado nenhum, ele pode mandar logo duas bujardas, falar nos fascistas e nos reaccionários para vocês reagirem e ele dizer: “vêem, não consigo falar, eles não me deixam falar!” Pode ser uma estratégia, ser vitimizado. Vocês podem ir para uma assembleia hostil para se vitimizarem. Dizer:”trataram-me mal, chamaram-me nomes, atiraram-me como os copos.” Bom, essa é uma estratégia.

Agora, vocês podem ir para uma assembleia hostil para conseguir interagir com ela e então, sei lá, de certa forma… o ano passado tivemos cá o Dr. António Vitorino. Ele entrou com muita elegância, fazendo uma brincadeira sobre o facto de estar cá. E disse: “Bem, meus caros amigos, não sei porque é que o Carlos Coelho me convidou, durante muito tempo pensei porquê que ele me convidou para vir aqui à Universidade de Verão do PSD, depois percebi. O comentador dos domingos não veio a esta edição –o Professor Marcelo não veio o ano passado – e então ele convidou o comentador das segundas-feiras (risos). E vocês têm muita sorte, porque se eu tivesse recusado, ele teria convidado a comentadora das terças-feiras (que era Constança Cunha e Sá na TVI) “ (risos). E a malta riu imenso e ele conquistou a audiência a partir daí, portanto, conquistou a audiência, fez uma piada “porque é que eu estou aqui, vocês a olhar para mim, eu sou o inimigo”. Conquistou a audiência nesse momento, a partir daí. Ele vinha falar da Europa, que não é exactamente uma questão que o PSD e o PS tenham muitas diferenças. Mas ele ganhou uma assembleia teoricamente hostil.

Aquele filme que o Rodrigo fez o favor de fazer para nós na Assembleia da Republica, é uma forma de ganhar a simpatia numa assembleia hostil. Disse. “OK, eu não sou do vosso partido, não sou do vosso clube, mas estou aqui de boa vontade para falar convosco, para trocamos opiniões, para ver onde é que podemos concordar. É uma forma de lidar com uma assembleia hostil, depende do objectivo. Nós queremos confrontar ou queremos cativar.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Só vou deixar aqui uma nota. Os speach writers têm que ter uma boa técnica que é muito utilizada nos Estados Unidos: você não vê um presidente ou um ex-presidente ou um senador importante fazer um discurso sem antes começar com uma graçola que, não estando escrita, não estando no guião, evidente não?, está mais do que estudada.

 Isto serve para duas… Tem dois efeitos pretendidos. O primeiro foi exactamente quilo que o Carlos explicou, conquistar audiência, a simpatia da audiência, não é, e a própria captação da atenção. Porque eu quando começo assim descontraído, imaginem que chegava cá e fazia aqui uma graçola qualquer sobre a bandeira monárquica: “Olha, vi aqui a vossa bandeira da Universidade de Verão, ah tão giro, não é?” Pronto, toda a gente se ria, simpático, que foi aquilo que o Duarte fez aliás, siga para a frente e depois vou para a minha intervenção. Isto é uma técnica, isto é uma técnica e depois posso ir em crescendo. Posso ir em crescendo porque conquistei o capital de atenção e simpatia logo no princípio, não é? Mas se repararem, vejam bem os discursos, principalmente os anglo-saxónicos que tanto os ingleses como os americanos fazem sempre, sempre o mesmo número: chegam ao pé do microfone, dizem uma graçola qualquer de oportunidade, daquelas do momento, por qualquer coisa que apareceu nos jornais e depois então fazem a sua intervenção como se não tivessem estudado, mas está tudo estudadíssimo. Simpatia e ironia.

 
Duarte Marques
Obrigado Rodrigo. David Cerqueira do Grupo Azul
 
David Cerqueira
Bom dia, eu sou o David Cerqueira. Há pouco falamos que o centro do ciclo de propagação das ideias actualmente é a internet e obviamente com isso a velocidade de transmissão supera aquilo que são os meios físicos, os meios mais tradicionais. E a nossa pergunta, nós em grupo começamos a pensar se com essa velocidade não se poderia tornar a informação muito menos pensada, muito menos racional a por vezes até mais emotiva. Ou seja, a nossa pergunta directa é: qual a forma de evitar precipitações e deturpações com a actual imprensa, ao contrário, com a imprensa tradicional, tínhamos por exemplo a revisão e era tudo mais pensado. É a nossa pergunta. Obrigado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Deixe-me só dar aqui uma nota prévia. Quando disse que esse ciclo de propagação de ideias tinha mudado, isso corresponde a um determinado modelo, ou seja, eu tenho cada vez menos tempo no telejornal ou na televisão, está a passar a telenovela ou o futebol, como disse ali, e isto é importante nós termos esta noção, também não tenho espaço nos jornais porque eles precisam de vender publicidade e portanto também têm os seus próprios produtos mais mediáticos.

Porque é que, de repente, se começaram a discutir ideias na internet? Porque era o único sítio onde deram espaço para tal. É o único sítio onde não tenho limite de caracteres, não tenho limite de minutos, aliás vimos que o Professor Vital Moreira abusou, não é?, é o único sítio onde podemos ter o Vital Moreira a falar 1 hora e 9 minutos, mais ninguém lhe dá palco para isso, não é?

Em bom rigor, aquilo tem uma capacidade de armazenagem ilimitada e portanto é normal que a parte da discussão das ideias passe para a internet. Isto para ir directo à sua pergunta: eu não sei se é pior, é verdade que tudo é muito mais instantâneo, que tudo é muito mais imediato, todos os efeitos ganham-se e perdem-se com muito mais foguetório, tudo é muito mais foguetório, eu percebo lindamente o que é que está a dizer, de repente uma coisa é bestial e de repente outra já passou de moda, 6 horas depois há outra coisa a querer rolar, está tudo mais instantâneo, sim, é verdade.

Por outro lado, aquilo que você tem é um contacto directo com os seus eleitores. Ao contrário dos media tradicionais onde você tinha que passou pelo jornalista (tem um intermediário naquela pessoa que faz o contacto entre si e o eleitorado), ali você fala directamente com as pessoas. E portanto o risco, numa relação custo-benefício compensa. Você está a falar directamente com as pessoas, você diz um palavrão pelo meio ou leva um número ou comete um erro qualquer fruto do imediatismo, e tenho, por exemplo, quando escrevo no blogue dou, evidentemente, erros e erros às vezes daqueles gravíssimos. Nunca corrigi um. Deixo-os lá. Já está! Carta jogada está na mesa, siga. Porque é assim. Espero que as pessoas compreendam, dou outro lado, que estou no meio do trabalho e apeteceu-me escrever aquilo. Portanto está com erros, uma percentagem não está certa, há um facto qualquer que falha. Mas a verdade é que compensa. No fim do dia, compensa. Vivo com mais riscos, cometo mais erros, mas dispensei os intermediários na minha relação com os eleitores.

 
Duarte Marques
Obrigada Rodrigo. De seguida a Susete Oliveira do Grupo Verde.
 
Suzete Oliveira
Bom dia. A pergunta do grupo verde é: Uma vez que se constata que os jovens portugueses têm uma certa relutância relativamente a falar, a nossa pergunta é: Acham que devia haver técnica de comunicação a partir do ensino secundário, como forma de conseguirmos ganhar um maior à-vontade com o público, de conseguirmos falar com diferentes tipos de público? Obrigado.
 
Dep.Carlos Coelho
comunicação falada, bem como da comunicação escrita. Há poucos jornais escolares, devia haver mais jornais escolares, ou blogues escolares com a capacidade das pessoas exercitarem a escrita. Eu acho que hoje as pessoas escrevem menos do que escreviam há uns anos atrás, como lêem menos do que liam há uns anos atrás. E há uma moda recente trágica que é a capacidade de escrever como se fala, sobretudo por causa dos SMS, o que faz com que muitos jovens de tenra idade adoptem novas grafias, e quando vão a escrever em planos mais formais toda a gente diz. “esta pessoa não sabe escrever Português”. Portanto na comunicação há um deficit de informação que a escola também podia ajudar a resolver. Acho que tem toda a razão naquilo que diz.

O Duarte vai abrir agora o debate do Catch the Eye. O Rodrigo e eu tentámos penalizar-nos por termos falado tempo demais na intervenção inicial e estamos a dar respostas mais curtas para que possa haver mais gente e participar e há gente a participar de longe….

Do Dubai…do Dubai….Olá Humberto, Humberto Monteiro, foi participante em 2005... diz-nos que para além dos conselhos que o Rodrigo e eu demos, há três erros que ele acha que nós nunca podemos cometer numa assembleia. O primeiro é interromper os outros quando discursam, o segundo é pedir desculpa antes de começar a falar, e o terceiro é terminar com as frases dos outros. E pergunta se nós concordamos com ele ou não. Eu diria que concordo com o Humberto, mas pode haver excepções. Primeira regra: interromper ou outros quando discursam, nunca devemos fazer isso, excepto quando os outros ultrapassam o limite. Se houver uma situação limite, de insulto gratuito, eu acho que nós temos que representar a indignação logo, dizer, fazer um aparte violento e dizer:”isso é mentira” ou “isso é sujeira”, “isso não….”, portanto manifestarmos logo a nossa discordância. Depois pedir desculpa antes de começar a falar, acho que o Humberto tem toda a razão…de facto não faz sentido fazê-lo, terminar com as frases dos outros, em princípio não, a menos que seja uma situação que caia bem…

E acabei a intervenção inicial da Universidade de Verão, praticamente, com aquela citação do Francisco Sá Carneiro, da Ética… É uma frase de outro… Acho que terminei bem, terminei em beleza e não fiquei, não fiquei arrependido por isso. Mas, de uma forma geral, o Humberto tem razão.

O Francisco Castelo Branco esteve na Universidade de 2006 e dirige uma pergunta ao Rodrigo Moita de Deus. E a pergunta é a seguinte:” Se também na blogosfera é necessário falar lcaro para fazer boa política”. Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Na blogosfera não se faz política, faz-se comentário, faz-se análise, faz-se terrorismo…não se faz, não se faz política. A política ainda se faz nos parlamentos. Eu pelo menos tinha uma imagem mais digna da política. Aquilo que nós fazemos é outra coisa…vamos fazendo opinião…aí sim. Não só na blogosfera, mas tudo o que seja os novos meios.

Repito um bocadinho, aproveito para repetir um bocadinho aquilo que vos disse: há uma linguagem que é cada vez mais própria, que é a vossa linguagem e a nossa linguagem. Isto não quer dizer…qualquer pessoa que esteja habituada a passear pela internet, esteja habituada a estar online, e nós vemos pelos números que são cada vez mais e com umas idades que não vos passa pela cabeça. Por ex., há um estudo que diz que os leitores de blogues são maioritariamente acima dos 35 anos, que é uma coisa…provavelmente não estavam à espera disso…porque é gente que procura aquele espaço…aquele sítio onde ainda há espaço para discutir ideias. Mas sim, tem umas regras própria de linguagem, talvez não indo ao exagero do SMS, em que somos capazes de transmitir qualquer coisa em 4 caracteres, mas temos que ser cada vez mais curtos, ocupar cada vez menos espaço às pessoas e adaptar a nossa linguagem ao meio que utilizamos, sim, temos que falar claro.

 
Duarte Marques
Ok. Os oradores foram longos, mas vocês foram muito rápidos nas perguntas, hoje aprenderam a lição, e vai haver imenso tempo para perguntas e respostas, quase 35 minutos, tenho já 10 inscrições ou 11. Vou começar pela Andreia Ribeiro do Grupo Roxo.
 
Andreia Ribeiro
Bom dia. Serão os Media apenas um veículo de comunicação da mensagem política ou uma condicionante da mesma? Sujeitos à manipulação? Obrigada.
 
Eduardo Freitas
Bom dia. Quero dar os parabéns ao Rodrigo pelo blogue - 31 da Armada – dar realmente os parabéns, sou um fiel seguidor , apesar de não ter 35 anos, ainda, não pertencer a essa média. Não sei se o Duarte, mas o António Costa estava a dizer no Twitter que já mandou para cá a PJ, mas não se preocupe que o D. Duarte e o Gonçalo da Câmara Pereira já mandaram os templários para cá para o proteger.

Tirando essa parte, tenho duas perguntas. Uma das perguntas é : acha que o António Costa não percebe o “falar claro”, ou então, mas não se preocupe que agora vem o Santana Lopes para a Câmara e como tal faz coligação com o partido monárquico, possivelmente  vão devolver o bandeira…será que já devolveram a bandeira?

E a outra pergunta é : tive uma conferência com o Ricardo Araújo Pereira, não sei porquê mas também referi a parte do “Assim não”, porque também o Rodrigo teve uma disputa no blogue com ele…no blogue em que ele já  não escreveu há muito tempo, e então tiveram um pouco uma desavença, não sei se chamar assim…uma desavença. E o Ricardo Araújo Pereira dizia que não fazia política, mesmo apesar do cartaz que tinham contra o partido PNR, eles mesmo diziam que não faziam política, diziam que o Sol, por ex,  é aquele que faz mais  política do que eles, se estivesse um dia de sol, um dia bom para a praia, ninguém vai votar, toda a gente vai para a praia, e então ele também comparava aquela situação a uma situação do Jacques Chirac, quando foi eleito presidente da França, que era o pior nas sondagens, no início e a espécie de CONTRA-INFORMAÇÃO que havia na França era que ele era traído por todos, era o coitadinho, estava sempre com facas espetadas, e então foi eleito e ganhou como presidente. Pergunto: Já perdoou os Gato Fedorento?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu vou começar pela Andreia, não é? Perguntou-me se os media condicionam a vida política. Claro que sim, claro que sim, isto não é muito bonito de se dizer ou não se gosta de dizer, mas sim, mas é normal; tal como você também condiciona a vida política, aquilo que, e se calhar um bocadinho mais à frente que a blogosfera ou que a internet prova, é que qualquer cidadão consegue intervir na política. Isto é muito divertido, isto é muito divertido... De repente conseguimos arranjar aqui um meio engraçado para fazermos mais ou menos as mesmas coisas que os jornalistas fazem, sem lhes tirar qualquer mérito, porque fazem muito melhor, mas começar a condicionar a vida politica, intervir, influenciar, ter esse poder, o poder desceu à rua, no caso à fibra óptica, mas o poder está na rua, está nas massas e portanto podemos utilizar a expressão “condicionar” não como se fosse assim uma coisa grave…”Condiciona!” Não! Influencia, e o poder político tem é que ser influenciado, precisa de receber o feedback das pessoas, porque se não recebe o feedback das pessoas e dos jornalistas e dos analistas, se não recebe o feedback, aquilo que se vai passar é que a política continua a fechar-se sobre si mesma e fica fechada, fechada, fechada até ao fecho final…

Bom, o Ricardo Araújo Pereira diz que não faz política…eu também não, eu também não…sim, sim, não faz política, tá bem, tá bem….Hum….se eu já perdoei aos Gatos Fedorentos? Hum…. (risos) A questão é se os Gatos Fedorentos já me pagaram aquilo que me fizeram. Não, ainda não me pagaram aquilo que me fizeram… Hum… Aquilo que eles me fizeram foi: do ponto de vista de comunicação foi brilhante, brilhante, como eu disse, vocês vêem aquele vídeo e todas as mensagens principais que nós tínhamos lançado durante a campanha, eles desmancharam-na uma a uma, uma a uma… e a história da senhora “fui ao cinema, não havia bilhetes, fui abortar!” (Risos) Pronto, liberalizar, tudo ali perfeitinho, perfeitinho, perfeitinho, a fazer humor que é uma coisa de Jon Stuart … portanto não há armas nem reacções possíveis.

Do ponto de vista de comunicação caiu perfeito. Saiu no domingo, na RTP1, duas horas depois, duas horas depois eu vi porque estava atento, estava online. Cinco horas depois tudo aquilo que eram blogues, sites de internet estavam a disseminar o vídeo, com uma capacidade de propagação que eu não consegui ter ou que nós não conseguimos ter do nosso lado porque nunca tivemos, ou melhor, que eu achava que nós tínhamos e fomos assim tipo, arrasados, nós estávamos a fazer brilharetes atrás de brilharetes, eles de repente chegaram “veni vidi vici”, não é? Portanto cá vai disto, pumba…e lá foi…e lá fomos todos para casa, portanto não, não perdoo, mas evidentemente sei apreciar o exercício de brilhantismo.

Relativamente à sua questão da bandeira é uma boa pergunta, é uma boa pergunta, digo-lhe que o Presidente da Câmara estava de férias e que se fosse eu teria resolvido a coisa de outra maneira, evidente… Teria chamado os meninos, que são todos pais de filhos, entretanto, o que tem mais graça ainda, teria chamado os meninos e tinha-lhes dado três palmadinhas nas costas, pedido a bandeira de volta e tinha dito”e da próxima vez tenham juízo, não é, comportem-se, vá lá. Já chega, pronto”. E tinha acabado por ali. Portanto tenho que agradecer ao Arquitecto Manuel Salgado toda a publicidade que fez ao 31 da Armada, foi o autor, o génio e o estratega das mais brilhantes campanhas de comunicação online que já houve porque ele foi  alimentando a coisa sozinho. Até nos mandou prender, que tem imensa graça, portanto como vocês podem imaginar aquilo foi divertidíssimo, agradeço-lhe a ele, foi falta de tacto, mas o presidente António Costa, de facto, estava de férias a banhos, prova de que não pode deixar a Câmara assim ao Deus dará.

 
Duarte Marques
Obrigada Rodrigo. João Annes e a seguir o Ricardo Lopes.
 
João Annes
Boa tarde, eu adorei a vossa intervenção, um dueto bastante bem aliado para quem supostamente só o preparou até às 4 da manhã e gostaria apenas de pedir desculpa ao Rodrigo por não ter estado ontem no jantar da liberdade. Não por ser monarca, mas porque não compreendo uma Constituição feita para libertar o povo, uma das coisas que nos dizem é que nós não podemos escolher o nosso modelo de formação, não podemos dizer se somos uma monarquia ou não e continuo a questionar-me todos os dias sobre isso.

Posto este pequeno interregno, a minha questão tem a ver com formas de comunicação que nos foram aqui, muitas delas, explanadas, mas eu tenho uma questão muito concreta, tem a ver com o Novo Portugal. Eu tenho explorado esta ferramenta que foi criada pelo Partido e pela Juventude Social-democrata, estou a gostar imenso de trabalhar e de explorar isto e estou-me a preparar também para participar e gostava de saber como é que avaliam esta nova ferramenta, eu sei que é novíssima, está, está aqui à nossa frente, nos nossos computadores… Como é que vêem e se acham, qual é que será o vosso prognóstico antes do início do jogo, porque está, acabou de começar este Novo Portugal a nível deste site, como é que encaram esta nova ferramenta de comunicação e se acham que a juventude, mas também, porque não toda a população que se interesse, se irá ou não pegar nisto e o que é que nós, militantes, o que é que nós, participantes, também aqui da Universidade de Verão, podemos fazer para ajudar a que isto funcione. Obrigado.

 
Ricardo Santos Lopes
Antes de mais bom dia a todos. Ricardo Santos Lopes do grupo cinza. A minha questão vai no sentido de, todos nós conhecemos situações, ou fomos até vítimas de informação deturpada por parte da comunicação social. De que forma é que podemos responder ou ir…termos o direito de resposta, no sentido em que um jornal pode fazer uma manchete com a maior falsidade por parte de um político e o que a legislação obriga é o desmentido, mas pode ser um desmentido com um recorte que ninguém provavelmente vai reparar. Outra questão vai no sentido de uma história que o deputado Carlos Coelho contou sobre…que tinha dado uma entrevista e que a comunicação social não passou porque tinha passado a cadela do Carlos Cruz (não sei se se recorda)... Em que sentido é que podemos combater esta situação para que passe a nossa mensagem? Obrigado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
João, relativamente à ferramenta, você tem aqui ao lado um advogado bestial, porque está a vê-lo pendurado algures num escadote qualquer, ele continuava-me a ligar ”Mas tu já foste ver o site?, tu já foste ver o site?” e portanto aqui o Duarte é aqui um propagandista absolutamente extraordinário. Fui ver o site… Tudo aquilo que sejam sistemas participativos ou wiki, não é? Tudo aquilo que sejam sistemas wiki, são sistemas de sucesso porque suscitem a participação, é abrir a porta à participação e isso é sempre bom…

Uma, uma nota que lhe deixo porque sei que gosta destas coisas: não se pode nunca, não podem, nunca, correr o risco de se fecharem sobre si próprios e a tendência é sempre fechar, fechar, fechar, ou seja, qual é o erro do Sócrates 2009, dando aqui um bom exemplo? Você tem que se registar, decorar uma password, não é? E depois entra e depois faz tudo lá dentro, aquilo tem um chat e tudo, sabia? Portanto dá para fazer chat com… Consegue imaginar o Vital Moreira e a Inês de Medeiros a fazerem “Oi!”? (risos) É disparatado! “Oi Inês”, “Oi Prof.”, é disparatado, não é? A ideia de você ter o registo de utilizador, quer dizer, tudo aquilo é uma duplicação de sistemas que já existem, um Hi5, um MSN, para quê que vão duplicar aquilo com o logótipo do Sócrates 2009? Não vale a pena. Muito mais importante é nós sabermos utilizar as redes que já estão montadas, em nosso proveito, portanto, a proposta é fantástica, garanta é que a proposta chega às redes que já existem, não se fechem sobre vocês próprios, que é muito fácil isso acontecer.

Relativamente à segunda pergunta, do Ricardo Santos Lopes, informação deturpada e a comunicação social … Eu fui jornalista… E como eu, houve outros jornalistas isentos, como Marcelo Rebelo de Sousa, José Saramago, Marinho Pinto, Paulo Portas, dentro da categoria jornalistas isentos, há assim… são uma carrada deles… a Manuela Moura Guedes, outra jornalista isenta… eu gosto de ver e não tenho problema nenhum com isso.

Aliás em Espanha ou em Inglaterra, quer dizer, os jornalistas são assumidos, ideologicamente assumidos e portanto têm as suas opiniões, falam como querem e por isso como percebo esse sistema de que é impossível eu desligar o botão daquilo que penso e daquilo que acredito quando entro numa redacção, também não faço o discurso do “Ai, este foi mau para mim”. Se quiser ter notícia, facto, vou à Lusa, não é? E mesmo assim se calhar nem na Lusa, não é? Mas vou à Lusa…isso é notícia, de facto, tudo o resto são interpretações e quando você faz uma interpretação, obrigatoriamente acrescenta um ponto.

Isto para chegar onde? Eu não faço muito o discurso da crítica à comunicação social, acho que se há um jornal que nos persegue constantemente com manchetes, eu vou dizer maldosas, não vou dizer caluniosas porque isso é crime e é tribunal, mas manchetes maldosas é garantir que há um jornal que me faz manchetes favoráveis, ou aquilo que eu farei em última instância que tenho eu os meus próprios meios, e os meios existem, (é isto que eu vos estou a tentar dizer) para chegar directamente às pessoas, para chegar directamente às pessoas, os meios existem, vocês viram há bocado ali. O Público tem 58.3000 exemplares de tiragem num dia bom, muito bom ….de tiragem, de tiragem…as vendas devem ser o quê? 20.000?… Isso é uma coisa que um blogue chega lá… Portanto, porque é que nos estamos a queixar, vamos lá! Em vez de perdemos tempo a queixar-nos, vamos passar para a fase seguinte e fazer nós. É muito mais prático.

 
Dep.Carlos Coelho
Uma coisa que eu gosto sempre de dizer na comunicação é que o que nós dizemos não é o que nos sai da boca para fora, é aquilo que entra nos ouvidos dos outros para dentro. Eu posso dizer branco, se vocês ouviram preto, a minha comunicação foi dizer preto.

Eu na Assembleia da República era deputado e fiz uma vez uma intervenção. Estamos a falar de educação e falei do recrutamento de docentes, a pessoa que estava, a funcionária, a fazer a transcrição, ouviu-me falar em recrutamento de doentes….e se virem na acta da Assembleia da República, num debate da educação, este vosso amigo está a falar com muita convicção no recrutamento de doentes. Não sei quantos dos meus colegas na assembleia não ouviram a mesma coisa na altura. Foi um problema da minha dicção. E portanto, tenham sempre em atenção isso, o que é importante é o que os outros ouvem.

Isso também é válido para a comunicação social. A comunicação social tem regras e a principal regra é vender para os seus consumidores, eles procuram notícia, procuram o que é mais escandaloso, o que é mais interessante, o que é mais picante, o que não se segue… A lógica das audiências não é interessante para os jornalistas, ora eu tenho que perceber isso e na minha forma de fazer política com os jornalistas, na minha forma de transmitir, eu tenho que usar essas armas também. Tenho que tornar o meu produto mais picante, mais interessante, mais estimulante.

Pergunta o Ricardo, muito bem, “e se houver uma deturpação?” Se houver uma deturpação, sinceramente nós temos que pôr a mão na consciência e pensar se não fomos nós a criar azo a essa deturpação, não é? Porque podemos ser nós responsáveis por essa deturpação ou porque não tivemos uma boa dicção (Carlos Coelho – docente/doentes) ou porque na forma como nos apresentámos, cráamos um erro, um ruído de comunicação ou porque o momento foi mau, portanto podemos ter sido nós a criar essa deturpação, mas podemos não ter sido nós, pode ter sido a comunicação social e pode ter sido por lapso, e se é por lapso, geralmente, é possível gerir uma relação com os jornalistas e dizer ”Olhe, o senhor deturpou, não foi isto que eu disse “, e tal e ele arranja uma forma de compensar, mais tarde ou mais cedo.

Ou então temos um adversário, temos alguém que usa o jornal, a rádio, um canal de televisão contra nós e aí só há duas alternativas: é a denúncia e é jogando com a concorrência. Há sempre outro jornal, outro rádio, outra televisão que concorrem com eles e portanto temos que arranjar maneira de quem está na concorrência denunciar aquilo que o outro fez… para não cairmos numa situação de total desfavor. Em princípio nós não devemos ter guerras com os jornalistas porque eles têm geralmente a ultima palavra. Se tivermos que comprar uma guerra, então que o façamos bem.

O Ricardo recordou uma história que eu contei algumas vezes, quando coisas que no Parlamento Europeu não passaram porque não havia espaço televisivo. E uma das vezes em que não houve espaço televisivo foi quando o Carlos Cruz foi libertado, na altura, no inicio do processo foi para casa, tinha sido detido antes….depois de entrar na prisão preventiva, tinha sido detido para averiguações e depois foi libertado e saiu de departamento de investigação e acção penal – do DIAP, de Lisboa e… e todas as televisões, as três televisões fizeram um aparato monumental. Havia câmaras no DIAP, havia câmaras no sítio onde ele ía, não me recordo onde, havia câmaras em casa dele e as emissões passavam de um lado para o outro. E eu estava a seguir uma delas, já não me recordo sinceramente qual, em que a emissão passou de um lado para o outro, portanto, com um erro do realizador, um erro do realizador e apanha o pivot que está em casa do Carlos Cruz. Apanha a emissão e como qualquer bom profissional tem que falar. Ah, e apanha a emissão dizendo “O Carlos Cruz está a chegar a casa” e ele disse: “Bem o Carlos Cruz ainda não chegou, tal, tal estamos à espera que ele chegue a qualquer momento, tal, tal, mas já chegou a cadela do Carlos Cruz.” Então, grande plano da carrinha do veterinário, que aliás, teve ali um minuto de publicidade em horário nobre, portanto às 8 e 10 da noite… grande, grande plano da carrinha do veterinário e diz “a cadela está muito ansiosa, já não vê o Carlos Cruz há não–sei-quantos dias, tal, tal e vai ser um momento muito bonito porque o Carlos Cruz vai e vai ver  a cadela  e a cadela vai ver o Carlos Cruz” e temos um minuto às 8 e 10, um minuto a falar da cadela do Carlos Cruz. E eu disse isto numa reunião com jornalistas, em Coimbra, e disse-lhes “eu nesse momento não queria ser deputado europeu, queria ser a cadela do Carlos Cruz” (risos)

 
Duarte Marques
Obrigado, De seguida é o António Fonseca do Grupo Roxo que foi a única pessoa que concorreu e que quando se candidatou apresentou um vídeo de candidatura, se não estou em erro. Tem a palavra. Força. Parabéns. Vamos a isso.
 
António Fonseca
Peço desculpa. Primeiro é de louvar a forma lúdica e didáctica e enriquecedora como foi explanada esta apresentação. Estivemos aqui a falar de imagem, postura, e de técnica de falar claro e de fazer boa política. A minha pergunta é a seguinte: estará, hoje, a política demasiado centrada na imagem treinada, hiper manipuladora, em detrimento de ideias e convicções e genuinidade. Podemos fazer aqui o confronto Sócrates versus Manuela Ferreira Leite? Obrigado.
 
Jean Barroca
Bom dia. Desde ontem, desde a intervenção do Dr. Miguel Monjardino até à intervenção do Dr. Marques Mendes, tem-se falado bastante desta nova forma de fazer política, desta nova ideia da política 2.0 e de o poder estar na rua, como disse há pouco. A questão que eu ponho, e tem muito haver com esta nova forma também das sociedades se organizarem, até a questão da economia ter que se reorganizar consoante esta nova criação de comunidades online, sobretudo, que são, de facto, novas formas de poder, é se o nosso sistema político está preparado para esta quantidade de novas ideias que ao mesmo tempo traz novas pessoas e, se calhar, até é mais ao Dr. Carlos Coelho, se o nosso partido está preparado para ter mais pessoas e mais ideias, que são tantas e que são tão desconhecidas, se não teremos a estrutura de topo mais resistente do que aquilo devia estar a estas novas formas de comunicação. Obrigado.
 
Dep.Carlos Coelho
Ó Jean, quem responde à sua pergunta é o Rodrigo. Sobre a questão do Partido… foge um bocado a... podemos falar ao almoço, mas não queria misturar os planos da conversa.

António, o António faz uma pergunta que é muito interessante. “O que é que é mais importante? É a imagem ou é a autenticidade? É ser genuíno ou é ser fabricado?”.

Já houve, aliás uma pergunta parecida há pouco. Vamos admitir que a mensagem política tem que ter dois requisitos. Tem que ter substância e tem que ser bonita, tem que ser esteticamente interessante. E bonita, independentemente de ser para a televisão, para a rádio, para um discurso escrito, portanto tem que ter imagem e tem que ter substância. Vocês imaginam com estes dois requisitos quatro situações possíveis. Vocês vão fazer uma comunicação que não é nem bonito nem substância, condenada ao fracasso. Vão fazer uma comunicação que é bonita, mas não tem não tem substância – Sócrates – toda produzida mas sem substância… Bem, não passa no teste da credibilidade. Vocês têm uma mensagem com muita substância, mas que não é interessante à vista, ao ouvido. As pessoas não compram. A única hipótese de terem sucesso na comunicação, é se ela tiver imagem e tiver substância. Portanto, das quatro categorias, só a primeira é a receita do sucesso. Tem que ter imagem e tem que ter substância. Todas as outras têm, são condenadas mais ao fracasso. Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom Jean, boa pergunta: se os políticos estão preparados para, para o…. Eu não vou dizer mundo novo, porque eu acho que as coisas já aconteceram, aquele estudo da Microsoft, aquele que nos diz , o mais engraçado não é? Que em Julho de 2010, os consumidores vão passar mais tempo à frente do online do que à frente de televisão, não é isso. O que eles nos estão a dizer é: hoje em dia já passamos muito mais tempo online do que à frente da televisão e isto significa que algo mudou, que o nosso relacionamento com as pessoas passou-se a fazer online, porque eu tenho que trabalhar, não é? Portanto, eu não consigo estar no café, não consigo ir ao final da tarde, como fazia, quando saía das aulas do liceu e ia ao final da tarde para o Mil e Quinhentos, ali na Álvares Cabral, às vezes não era ao final da tarde, às vezes era ao principio da tarde, outras vezes nem sequer ia às aulas, mas ir para o café e conviver. Portanto tudo isso mudou. Tenho que ir trabalhar, tenho uma vida apressada, despachada, instantânea, rápida, rápida, rápida, portanto compenso tudo aquilo que não tenho no mundo físico, ali. Tenho o facebook, mantenho os meus amigos, mantenho contactos com as pessoas, tenho namoricos, não tenho namoricos, não-sei-quê, faço a minha vida toda online. Porque ou estou obrigado a estar online porque o meu trabalho é esse, não é? Porque hoje em dia qualquer analista de bolsa, gestor, etc., tem que estar com o computador aberto, ligado à internet, 24 horas por dia. Bom, não há outra alternativa.

Portanto, quando me pergunta os políticos estão preparados para este mundo extraordinário de interactividade, porque é a expressão que lhe faltava, é a história da interactividade, que é aquilo que nunca tivemos, que é os senhores que estavam lá dentro no parlamento ficavam a discutir uns com os outros e acabou ali e de repente não, há uma, mandam twits, não é? As pessoas respondem-lhes…depois o tipo fala do twit que recebeu… (o tipo, o senhor deputado), não é? E estão a comentar, há uma interacção com o eleitorado, com a comunidade que nunca existiu porque nunca existiram essas ferramentas. É uma questão tecnológica, ponto. Fibra óptica, um mundo maravilhoso! Não, os políticos não estão preparados para isso, mas os políticos não estão preparados para isso, nem você nem eu estamos. Ainda ninguém sabe muito bem como é que isto funciona ou no que é que isto vai dar, ninguém está preparado. As coisas foram simplesmente acontecendo, quando passamos a barreira dos 3 gigas por segundo, a partir desse momento deixamos de estar todos preparados. Agora vamos ver para onde é que isto vai.

 
Duarte Marques
Obrigado. Pedro Silva.
 
Pedro Pereira da Silva
Bom dia. A pergunta era para o Rodrigo e para o Dep. Carlos Coelho. Os meios de comunicação social e o boom ainda maior do mundo digital é um acontecimento inevitável. Acham que essa renovação é importante na educação política dos jovens, numa maior escolha do que queremos ver e ouvir? Em vez de estarmos limitados às linhas editoriais dos jornalistas?
 
João Ribeiro
Parte da minha dúvida já foi esclarecida aqui pelo meu colega, mas gostava ainda de ser mais esclarecido… Numa sociedade que os programas humorísticos e satíricos têm tanta visibilidade, até que ponto nós conseguimos evitar uma crítica tão pesada como a que sofreu e, caso não seja possível evitá-la, se tem alguma estratégia para resolver a situação. Por outro lado, queria ainda esclarecer até que ponto é que política através dos blogues, pode favorecer uma política suja e de anonimato, uma vez que é tão fácil ludibriar nomes ou fazer coisas simplesmente em anónimo. Obrigado.
 
Duarte Marques
Obrigado João. Firmino Serôdio.
 
Firmino Serôdio
Se calhar esta pergunta vai-se tornar um pouco cliché para o Rodrigo nestes últimos dias, mas eu queria muito tentar esclarecer esta minha ideia. Vocês, ainda há bocado falou de carisma na política e as pessoas tentarem obter carisma e se evidenciarem com as suas ideias. Eu queria saber qual é a tentativa que os 31 da Armada fizeram para obter carisma nesta ultima iniciativa que fizeram de colocar a bandeira e se isso faz com que vocês tenham algum objectivo político e quais são.  É essa. Obrigado.
 
Duarte Marques
Obrigado. Manuel Nina
 
Manuel Nina
Bom dia a todos. Hoje em dia e tentando não usar o cliché de 1984, portanto actualizando para o Final Cut de, onde aparece o Robin Williams, para quem viu, qualquer telemóvel tem uma câmara de filmar, uma câmara fotográfica, nós estamos expostos e isso é um olhar indiscreto aberto nas mãos de pessoas que têm valores, ou não, e portanto, neste momento, acha que, ou acham que, a população portuguesa ou mundial está preparada para ver os seus políticos como eles são? Mesmo quando eles não querem ser políticos, quando querem ser pais, namorados, maridos ou mulheres, ou, etc. Obrigado.
 
Dep.Carlos Coelho
Bem, eu dou a última palavra ao Rodrigo. São tudo perguntas que acho que são para ele. Faço apenas dois comentários, uma referência agora à pergunta do Manuel e uma questão lateral. Ó Manuel eu acho que todas as pessoas têm direito à sua privacidade, isso não tem nada a ver com a transparência da vida pública, a transparência da vida pública significa que as motivações e as dependências devem ser conhecidas. Agora, a privacidade, aquilo que eu faço na intimidade do meu lar, é uma coisa minha, não tenho que revelar. Agora há políticos que gostam de revelar, há políticos que gostam das revistas cor-de-rosa, que gostam de aparecer com o filho, com a namorada, com as relações, portanto, e há gente que vive disso, em todos os países desenvolvidos, não é sequer um fenómeno português, há quem se dê melhor com isso e há quem se dê pior. Não sei se viram as notícias internacionais há 15 dias, se não estou em erro. O presidente Sarkozi anunciou que estava a pensar, enfim, pessoas próximas do presidente Sarkozi, não foi ele próprio, estava pensar ter uma filha da Carla Bruni em 2011. Portanto o planeamento familiar é feito a esta distância, ah?

Eles querem ter um filho, não faço ideia, se calhar querem, agora, aquilo deve ter sido para matar uma notícia…devem ter tido uma semana complicada para o presidente Sarkozi e pensaram: o quê que nós vamos por os jornais a falar para não falar, sei lá, do numero do desemprego ou da dependência do Banco Central da França relativamente a qualquer coisa, então, lembraram-se ”Bem, vamos dizer que a Carla Bruni vai engravidar daqui a 2 anos.”

Isto é uma coisa notável, ah? E encheu os jornais todos. Não só os Franceses como dos vários países da Europa. Carla Bruni vai ser Mãe em 2011. Sarkozi e Carla já combinaram a sua…bem, isto é notável , ah? Portanto, há aqui as duas coisas. Há quem, quem procure isso.

Bem, finalmente, há um documentozinho que estava na vossa pasta, no vosso envelope, que é o 4º documento, provavelmente vocês já conheciam essa brincadeira que é uma coisa em colunas em que podem pegar nas palavras de cada coluna e fazem frases. Acho que dá para 10.000 frases, se não estou em erro, uma coisa fantástica. Frases todas bonitas, redondas, quem diz essas frases dá ideia que conhece palavras muito sofisticadas, mas não diz nada. Vocês têm aí numa folha de papel a possibilidade de construírem 10.000 frases que não dizem nada, não representam nada. Isso é o contrário da comunicação. A comunicação não é não dizer nada, a comunicação é dizer alguma coisa  com sentido e isso faz toda a diferença na comunicação.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, regressando então aqui à questão do marketing digital… a expressão digital parece-me um bocadinho redutora, não é bem por aí, mas percebo que seja sobre, sobre o 2.0. Há um conceito engraçado, um conceito que vos queria deixar que é o conceito da media owner, o dono do media, portanto...(8 segundos inaudíveis). Aliás ele é dono de vários medias, o Berlusconi é dono de vários medias e hoje em dia as grandes marcas lá fora utilizam a expressão media owner para definir qualquer pessoa com um blogue ou como uma página de facebook ou com uma página de hi5. Porque quer dizer que vocês passaram a ter o poder de fazer a vossa própria programação, discutir os vossos próprios conteúdos, fazer uma grande programação como se fossem o José Eduardo Moniz e isto quer dizer que cada vez mais caminhamos para um, para um País ou para um mundo onde em vez de termos 3 ou 4 pessoas com acesso a toda a audiência temos milhares ou milhões de pessoas, temos milhares ou milhões de José Eduardo Monizes e isto é, de facto, a parte mais engraçada e é (inaudível) …de tudo isto.

Bom, relativamente ao humor, como é que nós evitamos que o humor nos destrua? Não evitamos. O humor é a pior das armas, é a mais letal das armas e historicamente sempre foi assim. Como é que nós resolvemos o problema? Começamos a ser bem-dispostos também, foi aquilo que nós começamos a fazer. Bom, isso é assim, não é? Portanto vocês ganham-nos porque mandam umas larachadas e fazem uns trocadilhos engraçados e não-sei-quê, mas o conteúdo está lá todo, não é? Portanto, está bem, vamos aprender a fazer isso e replicamos. Depois, daqui a uns anos encontramo-nos para ver quem é que ganha.

Política suja. A propósito dos comentários anónimos. Fala-se muito disso. Eu percebo que seja incomodativo para as pessoas, eu, por ex, no 31 da Armada, a minha caixa de comentários está sempre aberta, mas a maior partes das vezes eu nem vou lá, não vejo, não vejo comentários, mas há, não sei, dezenas de pessoas, de anónimos que vão lá, chamam-me nomes, insultam-me, ameaçam-me de pancada, fazem-me propostas indecentes, algumas engraçadas…acontece menos vezes que as ameaças de pancada…. (risos), mas queria-vos dizer que a Antonieta, rainha de França, aconteceu-lhe uma coisa horrível, que foi, havia a certa altura panfletos a correr em Paris a contar as suas, os seus apetites sexuais, (que duvido que algum deles fosse verdade) e a verdade é que os tempos não mudaram, desde então, não é? Antigamente era com panfletos anónimos, hoje é com comentários anónimos em blogues, ou em sites, quer dizer, o mecanismo continua o mesmo, não há maneira de resolver o problema. Um cobarde é sempre um cobarde. Não…seja 2.0 ou 1.0.

A bandeira. Queria, queria, sobre o episódio da bandeira que, acreditem, foi das coisas mais divertidas que já fiz na minha vida, queria separar duas coisas. A primeira é a parte que nos interessa que é a parte técnica da comunicação, e queria que vocês olhassem para isto, se pudessem, para que haja algum contributo para esta Universidade de Verão, que olhassem para isto como uma demonstração de poder. Quando eu dizia há bocado “o poder está na rua”, é mesmo isto. Imaginem o que é que quatro, quatro vaders conseguem fazer a meio da noite, não é? Assim como quem não quer a coisa. E tudo isto não houve um comunicado à imprensa, não houve, não há um press-release, não há uma convocatória à imprensa, não há uma conferência de imprensa, não. Foi só, só, só redes sociais, aliás, às 10 da manhã estavam as fotografias teaser no facebook, com pessoas a comentar e a dizer “o que é isto?”, ou “isto é uma farsa, é uma montagem”, etc. Às 11 da manhã no blogue começamos a fazer os teasers, anunciamos um comunicado para as 3 da tarde, com os teasers dirigidos da implantação da Republica, com o vader lá no meio. Anunciamos um comunicado para as 3 da tarde, o I saca a notícia, põe a notícia online antes do comunicado, do nosso comunicado a dizer que íamos fazer um vídeo para as 5 da tarde. Passamos o dia todo nisto. A alimentar, a alimentar, a alimentar, a alimentar, a alimentar e de repente começaram-me a mim a chegar SMS a dizer que a bandeira monárquica estava hasteada na Câmara Municipal de Lisboa. Eu recebi-os, tenho no meu telemóvel, de pessoas que já estavam a mandar...  Do género ”tens que ir ver!”, …”tens que ir ver! “, “o vídeo!”, “o vídeo!”, “o vídeo!”. Anunciámos o vídeo para as 8 e meia, o Público rouba o vídeo, conseguiu  cracar o nosso youtube, pegou no vídeo, puseram online e romperam o acordo que nós  tínhamos feito de só divulgar o vídeo às 8 e meia. Porque é que nós só queríamos divulgar o vídeo às 8 e meia? Porque tínhamos esperanças que uma televisão pegasse naquilo. Uma! Era giro! Uma! E de repente aquilo ganhou uma dinâmica própria. Isto, interpretem isto, enquanto parte técnica do falar claro, como uma demonstração do poder das redes sociais e da internet.

Relativamente ao aspecto simbólico, não lhe vou chamar político. É óbvio que foi uma coisa divertidíssima, é a varanda, queria-vos dizer que durante as filmagens não causamos dano nenhum a varanda nenhuma nem a edifício público nenhum e que a bandeira, como o vídeo bem prova, foi entregue, lavada e engomada. Portanto, em melhor estado, já pensando naquilo que temos que dizer ao Juiz (risos).

Mas o poder está na rua, o poder está em vocês, não se queixem dos jornalistas, vocês são muito mais do que isso, hoje em dia, são media owners, se têm a grelha de programação à vossa frente, vocês podem-na fazer, podem chegar às pessoas directamente e com um bocadinho de criatividade, sabe-se lá Deus o que é que pode acontecer. Muito obrigado.

 
Duarte Marques
Muito bem. Muito obrigado ao Rodrigo Moita de Deus e ao Carlos Coelho. Rodrigo: tem cuidado, as bandeiras estão lá fora, são para deixar no sitio (risos). Eles agora fingem que vão sair, que não sabem que vamos aqui fazer uma avaliação e uma votação e vão lá para fora e eu chamava o Pedro Esteves …para me ajudar. Muito bem, vamos só esperar um bocadinho para que os nossos oradores saiam, porque eles não sabem que nós vamos fazer isto…. Eles querem ver a votação….

Muito bem: preparem os votos, eu recordo mais uma vez que esta votação a quente é para avaliar a utilidade da sessão. Ia pedir à fila da frente que votasse.

(Votação)

Não se esqueçam, o almoço está a ser servido já. Recomeçamos depois aqui às 2 e meia com o Dr. Paulo Rangel e não se esqueçam de entregar as folhas lá fora e a votação, etc., etc. Obrigado.