As expectativas eram elevadas: Paulo Rangel afirmou-se, no último ano, como um agente político incontornável. De quinze em quinze dias afirmava-se na AR nos debates com o Primeiro-Ministro; em Maio/Junho foi o rosto mais visível da vitória do PSD nas eleições europeias. O tema estava dentro do tema do seu livro: Estado do Estado.
Todos estavam dentro da sala antes da hora, o que permitiu aproveitar ao máximo a presença do eurodeputado. Primeiro uma contextualização: a mudança no mundo. A queda do muro de Berlim e o 11 de Setembro são dois marcos dos últimos vinte anos."Há uma consciência que emerge do 11-Setembro: ainda não sabíamos quem o tinha feito nem para quê e já sabíamos que ia mudar as nossas vidas". A incerteza em relação ao futuro volta a marcar presença nas nossas aulas.
De seguida, entramos na natureza do Estado. "O Estado é a coisa mais próxima de Deus que existe: é omnipresente e é invisível, nunca ninguém o viu mas toda a gente acredita nele". Falar do Estado implica falar de Maquiavel. Paulo Rangel introduz dizendo que "a grande lição do Príncipe é a de que a política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política. Anda aí muita confusão entre o que é o plano político, o plano jurídico e o plano ético".
Falou-se também da emergência de entidades não-estatais mas com poder: associações de cariz internacional, ONG's, confissões religiosas, lóbis empresariais. "Muitas multinacionais têm melhores políticos do que qualquer Estado", salientou Jean Barroca (UV2009) na intervenção de Paulo Rangel, via Facebook. "O Estado deixou de ter o domínio que exercia sobre o seu território (...) as circunscrições territoriais começam a ficar desajustadas. Os Estados ficam reduzidos a Juntas de freguesia e as legislativas a eleições para a Assembleia de Freguesia". "Nós vivemos naquilo a que eu chamo poliarquia: monarquia é o poder de um só; a poliarquia é o poder de muitos (...) o Estado acaba por ser uma monarquia".
Termina a sua apresentação do tema com uma sugestão de leitura: "O Cândido", de Voltaire, de onde retirou a sua palavra final. "Tudo isso está muito bem dito, mas o que é preciso é cultivar o meu jardim".
Seguiu-se a fase de P&R, que cobriu áreas como défice democrático da UE, o poder dos Estados, Estado Federal Europeu, papel do Presidente da República, ética, regulamentação da actividade lobística, o paralelo entre os crentes que esperam a intervenção divina e o cidadão em apuros com o Estado. Paulo Rangel não evitou nenhum tema, assumindo com frontalidade as suas posições: "o federalismo é bom porque nos põe no circuito de decisão". Actualmente tomamos "as mesmas decisões, mas não somos ouvidos no processo"; "é mais importante ter bons costumes que boas leis"; "por trás da lógica TGV está o modelo grego: uma grande metrópole (Atenas) e o resto do território desertificado".
Paulo Rangel despede-se citando John Locke: "Os reinados dos bons princípes foram sempre mui perigosos para a liberdade dos seus povos".