O ambiente é um tema incontornável e  marca presença em todas as edições da UV. Este ano decidiu-se dar uma  nova tónica: até hoje, a perspectiva apresentada foi "consciência  global"; este ano, convidámos Macário Correia para apresentar o  ambiente como uma causa global de acção local.
"A terra onde vivemos não nos pertence:  pedimo-la emprestada aos nossos filhos". Foi com esta afirmação que o  candidato à Câmara de Faro lança o tema, guiando-nos pelos pontos  incontornáveis: a criação do movimento ambientalista com a conferência  de Estocolmo em 1972, a definição de desenvolvimento sustentável  apresentada no Relatório Bruntland (1987), a implementação do conceito  citado na década de 90. Nos momentos em que vivemos, dá-se a revisão da  agenda, implementado-se a consciência de que o ambiente é uma  preocupação transversal a todas as áreas, e não específica de  determinado sector.
A interdependência é factor  incontornável, pois "a água do mar não conhece fronteiras: um derrame  no mar afecta vários países"; a água dos rios não conhece fronteiras: a  sua poluição afecta várias nações". "É este contexto global que tem de  se ter em conta, que tem de ser objecto de tratados e acordos  internacionais".
Em Portugal é com a criação da primeira  Lei de Bases em 1987 que damos os primeiros passos significativos, e "o  despertar dá-se em 1990 quando se cria o Ministério do Ambiente". Mas  muito há para fazer inclusive medidas tão simples como a protecção das  habitações à beira da auto-estrada da poluição sonora: "preferia que se  usassem mais barreiras vegetais do que aqueles acrílicos que entaipam  os limites das nossas auto-estradas".
Da tónica estadual passamos para a  tónica pessoal, a alteração dos nossos comportamentos, pois "não basta  que as pessoas saibam o que fazer. É necessário que façam." As pessoas  não querem poluir, "mas têm descoordenação motora, um problema na mão  que faz com que deixem cair um bocado do gelado, a garrafa, o maço de  tabaco... quando as coisas não vão parar sozinhas ao contentor, acabam  a boiar no mar". Mas não é só nas praias que se pode ver isso, "a berma  da estrada é o espelho do comportamento cívico das pessoas".
"O Estado não tem de fazer tudo, mas  deve ter o papel de implementar, aprofundar e enriquecer as escolas".  Diz Macário Correia que muito depende  da forma como nos colocamos  perante certas práticas: "a exigência dos consumidores é fundamental  para a melhoria da qualidade". Temos que ser mais exigentes.
Falámos então de cidades, em que as  considerações lançadas foram muitas, com enfoque particular na gestão  do território: "ao mesmo tempo que a área urbanizável cresce, devemos  também preocupar-nos em alimentar os cachos existentes". "Uma Câmara  não se pode demitir de ser gestora do seu território". Salienta o grave  problema de envelhecimento nos centros históricos das cidades, pois  "trazer jovens para os cachos urbanos é fundamental": "há freguesias em  Lisboa em que não se consegue ouvir um bebé chorar". E também o  desajuste na organização administrativa: "Do Marquês ao Terreiro do  Paço há onze freguesias. (...) Fará sentido, quarteirão após  quarteirão, termos o custo de um Presidente e secretaria sempre aberta?"
Dirigindo-se à inquietação do  desenvolvimento versus ambiente, Macário Correia deixa-nos um conselho:  "eu julgo que é sempre preferível usarmos o que a natureza nos dá.  Quando a natureza não dos dá, temos que ponderar bem os custos e os  benefícios de uma intervenção".