Na sua opinião, quais os maiores "muros de Berlim" que faltam cair na Europa?
Reconhecendo a existência de imperfeições que devem ser corrigidas, nenhuma delas é maior do que a ausência de liberdade individual e de respeito por direitos humanos fundamentais. Este ano, devemos celebrar o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim como um dos acontecimentos mais marcantes da segunda metade do século XX. Aquele dia de Novembro simbolizou o regresso da liberdade a toda a Europa. Após 1989, todos os países subjugados durante cerca de meio século à ditadura totalitária comunista passaram a viver em democracia. Falta agora terminar com a divisão de Chipre, derrubando assim o último muro político que ainda existe na União Europeia. A adesão destes países à União Europeia constituiu o resultado natural das "revoluções liberais", para usar a expressão de Ralf Darhendorff, ocorridas em finais de 1989. Sendo o primeiro Presidente da Comissão Europeia de uma 'Europa alargada' a 27 Estados Membros, conheço bem o profundo significado resultante desse alargamento. Pela primeira vez na sua história, a Europa vive unida em paz, em democracia e em liberdade. No entanto, o triunfo histórico de final do século XX não deve tornar os europeus complacentes. A democracia e a liberdade são como os jardins: devem ser cultivados e tratados permanentemente. Se assim fizermos, não voltarão a crescer novos "muros" na Europa.
Considera a Europa como o melhor local do mundo para se nascer ?
Não trocava nascer na Europa por nascer em qualquer outro continente. Vivemos em liberdade e em sociedades abertas e tolerantes. Nos planos económico e social, alcançamos um equilíbrio notável entre a prosperidade económica e a justiça social, invejado de resto em muitos outros países. No nosso continente, gozamos de uma diversidade e de uma riqueza culturais, desde a literatura à música e à pintura, sem comparação a nível mundial. Às conquistas políticas, económicas, sociais e culturais da Europa, junto o orgulho de ser português. Apesar de todos os nossos problemas, não trocaria nascer em Portugal por nascer em qualquer outro país europeu. E o orgulho na minha nacionalidade é indispensável para desempenhar o cargo de Presidente da Comissão com dignidade.
Estando fora de Portugal e tendo uma visão geral sobre os nossos parceiros na Europa, qual seria o seu conselho para que a Juventude Portuguesa se possa diferenciar e possa ter sucesso numa "Europa Global" ?
Devo dizer, antes de mais, que em termos gerais a juventude portuguesa tem tanto sucesso como as juventudes dos outros países europeus. Em várias cidades europeias, Londres, Paris, Bruxelas, Madrid. Amesterdão, Berlim, há milhares de jovens portugueses que se salientam em carreiras internacionais de sucesso. As gerações do "Portugal europeu" já pertencem à "Europa global". Sei bem que o nosso país enfrenta problemas sérios, mas por vezes é lúcido e salutar adoptar uma perspectiva histórica mais alargada. Se compararmos a minha geração e as gerações anteriores com as vossas, o fosso em termos de oportunidades é imenso. As oportunidades de que gozam demonstram o sucesso dos últimos trinta anos da história portuguesa. Deixaria dois conselhos. Aproveitem as oportunidades para estudarem e adquirirem experiências profissionais noutros países europeus, mas mantenham a vossa ligação com Portugal. Se o "Portugal europeu" vos dá mais oportunidades, é igualmente verdade que continuará a precisar da vossa formação.
Tendo em conta os objectivos do milénio, qual o papel da União Europeia no que concerne à erradicação da pobreza?
Como sabem, a União Europeia é a maior doadora mundial para a ajuda ao desenvolvimento. Como Presidente da Comissão Europeia, tomei decisões que reforçaram a contribuição europeia para lutar contra a pobreza mundial. Durante os próximos cinco anos, devemos fazer mais e melhor. O desenvolvimento em África será, concretamente, uma das principais prioridades da Comissão Europeia. Estou absolutamente convicto que as ligações históricas entre a Europa e África e os problemas que os africanos enfrentam exigem uma parceria para a paz e a prosperidade no continente africano.
Como é que a U.E. deverá lidar com a ameaça económica que os BRIC representam? Através de políticas proteccionistas ou de uma adaptação estrutural à nova realidade?
Observando de fora, a partir de um plano Europeu, considera que Manuela Ferreira Leite tem condições para impor Portugal na cena internacional? Qual o caminho a seguir para credibilizar o País?
depois de outubro com o PSD na liderança Nacional, quais seram as medidas mais corretas para portugal ser reconhecido la fora e ser credivel perante a Europa....
Gostaria de fazer uma pergunta pessoal. Eu e o Dr. Durão Barroso partilhamos as mesmas origens territoriais e sociais, provavelmente as mesmas experiências por estas proporcionadas. Os jovens da minha e da sua terra esforçam-se por canalizar toda a sua ambição, vontade e energia a trabalhar por um mundo mais junto e coeso como tem oportunidade de fazer enquanto Presidente da Comissão Europeia. O que tem a União Europeia e o Dr. Durão Barroso a dizer a todos estes jovens, base da continuidade do projecto europeu?
Se depois do desafio político internacional em que se encontra, tem vontade e se sente capaz de voltar a ser um quadro na conjuntura política nacional.
Gostaria de saber, qual é a opinião do Dr. Durão Barroso para o actual estado do nosso País e em que medida ou medidas gostaria de intervir se pudesse, para a apresentação de novas soluções e mudanças em Portugal.
Num momento de mudança iminente, com o surgimento de novas ordens mundiais, será que as mais antigas sociedades querem realmente resolver os seus problemas (liberdade, equidade, oportunidade) ?
Sendo militante e ex-presidente do PSD e como Presidente da Comissão Europeia, Qual é a sua opinião sobre a Integração do PSD no PPE, sendo que somos o único pais da Europa em que a maioria de direita é Social-Democrata e não Popular?
Um dos objectivos da União Europeia mais importante para os jovens é a criação de um mercado de trabalho único. Acha que as novas gerações já vão poder beneficiar deste mercado de trabalho muito mais abrangente?
Sou uma jovem recém-licenciada em Química e receio que o meu futuro no mercado de trabalho. Gostaria que me desse uma razão para investir no meu País, em vez de tentar a minha sorte noutro local da Europa. Considero que o seu ponto de vista como português e Presidente da Comissão Europeia seria muito interessante.
Tendo em conta a evolução da conjuntura político-partidária no Parlamento Europeu, bem como as atitudes de alguns Estados-Membros face ás instituições europeias, considera que a coesão europeia é um património em risco?
O que fez o Dr. Durão Barroso alterar radicalmente os seus ideais e crenças políticas quando na adolescência? Que influências sofreu? Ou foi um processo de auto-reflexão?
Face a actual situação energética internacional, o que pensam do recurso a energia nuclear, para atenuar a dependencia do petroleo por parte dos países da UE?
Em termos ambientais o uso de combustíveis fósseis está a contribuir para o aquecimento global e outras alterações climatéricas. Até quando vamos continuar a ser dominados pelo lobbie do petróleo?
Está a União Europeia capaz de manter a credibilidade e a União dos Países Europeus face ao crescente sentimento de descontentamento e desigualdades sociais?
É função do Presidente da Comunidade Europeia fazer evoluir a Europa para uma federação de Estados? A Comissão Europeia tem um papel ideológico na U.E.?
Porque concorre a um segundo mandato à frente da União Europeia tendo em conta a controvérsia que se faz sentir em torno do mesmo, não tem medo/receio das provocações que vão surgir?
Gostaria de saber que opinião tem em relação aos investimentos públicos que se propõem ser feitos em Portugal nos próximos anos, aproveitando os fundos comunitários existentes neste quadro europeu.
No novo mandato proposto a si para a presidência da U.E. nos próximos anos, conseguirá identificar qual será o maior desafio para a Presidência? Porquê?
As instâncias políticas nacionais não têm eficácia possível no controlo directo sobre a deslocalização das empresas multinacionais. A União Europeia, enquanto instância supranacional, pode ter algum papel neste domínio?